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Aumento de mortalidade nos diabéticos com depressão

Autor:

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 25/10/2009

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Aumento de mortalidade nos diabéticos com depressão

 

Depressão e aumento de mortalidade no diabetes: causas de morte inesperadas1[Link livre para o Artigo Completo].

 

Fator de impacto da revista (annals of family medicine): 4,542

 

Contexto Clínico

            Diabetes e depressão são duas condições médicas de grande importância para a saúde da população, tanto pela morbidade quanto pela mortalidade. Estudos epidemiológicos realizados tanto em hospitais como em amostras de base populacional mostram que indivíduos com diabetes têm mais chance de desenvolver depressão que indivíduos da população geral. A prevalência de depressão entre diabéticos chega a 25%, o dobro da prevalência na população geral2,3. Além desta associação, alguns estudos recentes também sugerem que pacientes diabéticos com depressão apresentam maior mortalidade geral que diabéticos sem depressão4,5. Entretanto, tais estudos não avaliaram como a depressão influencia a mortalidade por causas específicas entre pacientes com diabetes. Assim, os autores realizaram um estudo com o objetivo de avaliar a associação de depressão com mortalidade geral e mortalidade por causas específicas em pacientes com diabetes

 

O Estudo

            Trata-se de um estudo de coorte prospectiva, realizada com pacientes diabéticos acompanhados na atenção primária no Estado de Washington, EUA. Os pacientes foram selecionados de 9 clínicas de uma cooperativa de saúde. Utilizou-se o questionário de depressão auto-aplicável PHQ-9 (Patient Health Questionnaire)6 para avaliar a presença de depressão no início do estudo. Foram revisados os prontuários médicos complementados pelo registro de óbitos do Estado de Washington para avaliar as causas de morte. Foram incluídos no estudo 4.623 pacientes, com idade média de 48,8 anos, sendo 54,7% mulheres, entretanto dados completos de mortalidade e consentimento livre e esclarecido só estavam disponíveis para 4.184 participantes. O seguimento médio foi de 4,4 anos.

 

Resultados

            Durante o seguimento 581 participantes morreram. A mortalidade foi de 12,9% (n=428) entre os pacientes sem depressão, 17,8% (n=88) entre os pacientes com depressão maior e 18,2%(n=65) entre os pacientes com depressão menor. As causas de morte foram agrupadas em doença cardiovascular = 42,7%, câncer = 26,9% e outras causas (infecções, demência, insuficiência renal e doença pulmonar obstrutiva crônica principalmente) = 30,5%. Os pacientes diabéticos deprimidos diferiram significativamente dos diabéticos sem depressão. Os primeiros tinham um tempo maior de duração do diabetes, uma chance maior de ser mulher solteira, hábitos de vida menos saudáveis, pior controle glicêmico e mais comorbidades clínicas. Após ajuste para características demográficas, depressão maior de base associou-se significativamente com mortalidade geral (risco relativo – RR: 2,26; IC95% 1,79 – 2,85), com mortalidade cardiovascular (RR: 2,00; IC95% 1,37 – 2,94) e com mortalidade pelas causas adicionais (não cardiovascular e não neoplásica) (RR: 3,35; IC95% 2,30 – 4,89). Após ajuste adicional para as características clínicas de base e hábitos de vida, depressão maior associou-se significativamente apenas com mortalidade geral (RR: 1,52; IC95% 1,19 – 1,95) e com mortalidade não cardiovascular, não neoplásica (RR: 2,15; IC95% 1,43 – 3,24). A depressão menor apresentou associações semelhantes, porém não significantes. Os autores concluem que pacientes que apresentam diabetes e depressão estão sob risco aumentado de morte para além de mortes por causas cardiovasculares.

 

Aplicações para a Prática Clínica

            Os estudos de coorte são os estudos ideais para avaliar a história natural de doenças e suas relações com fatores de risco, complicações e comorbidades. Assim, o estudo é adequado para estudar a influência da depressão em pacientes diabéticos no que se refere à mortalidade. Foi um estudo bem feito realizado com uma amostra de pacientes não aleatória (foram escolhidas as 9 clínicas da cooperativa por sua localização e número de pacientes diabéticos), mas semelhante em termos de características demográficas à população atendida pela cooperativa (cerca de 500.000 pessoas no Estado de Washington). Além disso, como ressaltam os autores, foi utilizado um diagnóstico validado de diabetes, avaliação padronizada de depressão com base nos critérios do DSM-IV, inclusão das características clínicas e dos hábitos de saúde no modelo de regressão logística e adjudicação validada das causas de morte (revisão de prontuário e dados do atestado de óbito).

A maioria dos estudos sobre depressão e mortalidade focou nas doenças cardiovasculares, além disso, pelo fato da depressão aumentar a mortalidade após o infarto do miocárdio7 e grande parte da mortalidade associada ao diabetes ser causada por doença isquêmica do coração, seria de se esperar que o aumento da mortalidade associada à coexistência de diabetes e depressão estivesse relacionado a causas cardiovasculares. Entretanto não foi o que se observou neste estudo, em que causas não cardiovasculares e não neoplásicas foram responsáveis pelo excesso de mortalidade entre diabéticos com depressão comparados a diabéticos sem depressão, embora as duas principais causas de morte entre os participantes do estudo tenham sido doença cardiovascular aterosclerótica e neoplasias.  Muitas podem ser as explicações para esta associação, dentre elas hábitos de vida não saudáveis, não aderência, ativação de processos inflamatórios e modificações na regulação do sistema neuroendócrino e imune. Por ser de natureza observacional, a possibilidade de que fatores de confusão tenham tido algum papel nos achados do estudo existe. De qualquer forma, este editor acredita que é um estudo original, pois foi o primeiro a avaliar causas específicas de morte e depressão numa coorte de diabéticos, e que o exame das causas específicas de mortalidade é um primeiro passo na identificação de potenciais fatores de risco modificáveis entre diabéticos com depressão. Por fim, é possível que ações voltadas tanto para o tratamento da depressão como para modificar hábitos pouco saudáveis de vida e melhorar a aderência ao tratamento possam melhor o prognóstico de pacientes diabéticos com depressão.

 

Bibliografia

1.Lin EHB, Heckbert SR, Rutter CM, Katon WJ, Ciechanowski P, Ludman EJ, Oliver M, Young BA, McCulloch DK, Von Korff M. Depression and Increased Mortality in Diabetes: Unexpected Causes of Death. Ann Fam Med 2009:7:414-421.

2.Eaton WW. Epidemiologic evidence on the comorbidity of depression and diabetes. J Psychosom Res. 2002;53(4):903-906.

3.Anderson RJ, Freedland KE, Clouse RE, Lustman PJ. The prevalence of comorbid depression in adults with diabetes: a meta-analysis. Diabetes Care. 2001;24(6):1069-1078.

4. Katon WJ, Rutter C, Simon G, et al. The association of comorbid depression with mortality in patients with type 2 diabetes. Diabetes Care. 2005;28(11):2668-2672.

5. Zhang X, Norris SL, Gregg EW, Cheng YJ, Beckles G, Kahn HS. Depressive symptoms and mortality among persons with and without diabetes. Am J Epidemiol. 2005;161(7):652-660.

6. Spitzer RL, Kroenke K, Williams JB. Validation and utility of a selfreport version of PRIME-MD: the PHQ primary care study. Primary Care Evaluation of Mental Disorders. Patient Health Questionnaire. JAMA. 1999;282(18):1737-1744.

7. Frasure-Smith N, Lespérance F, Talajic M. Depression following myocardial infarction. Impact on 6-month survival. JAMA. 1993; 270(15):1819-1825.

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