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Estudo INTERSALT

Autores:

Euclides F. de A. Cavalcanti

Médico Colaborador da Disciplina de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP

Rodrigo Díaz Olmos

Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de são Paulo (FMUSP). Diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP. Docente da FMUSP.

Última revisão: 23/11/2009

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Estudo INTERSALT

 

Grupo de estudo cooperativo Intersalt. Intersalt: um estudo internacional de excreção de eletrólitos e pressão arterial. Resultados da excreção de sódio e potássio de 24 horas1. [Link para o Abstract] [Link para a reanálise dos dados publicada em 1996]

 

Fator de impacto da revista (British Medical Journal): 12.827

 

Contexto Clínico

            Os artigos comentados nesta seção são todos artigos muito recentes e procuramos sempre selecionar textos de grande impacto para a prática clínica do dia a dia. Na última semana comentamos um artigo sobre a relação da ingestão de sal com hipertensão resistente (ver: restrição de sal na hipertensão resistente). No comentário citamos também o estudo INTERSALT, que é um marco no conhecimento da relação da ingestão de sal e hipertensão arterial. Apesar de ter sido publicado em 1988, optamos por comentar aqui este estudo por julgarmos ser de extrema relevância clínica. 1,2,3

 

O Estudo

            Estudo seccional (estudo no qual CAUSA e EFEITO são observados em um mesmo momento histórico) realizado com 52 amostras populacionais de 32 países, com um total de 10.074 homens e mulheres entre 20 e 59 anos analisados. Foi verificada a associação da excreção urinária de sódio de 24 horas (medida indireta da ingestão de sal) com hipertensão arterial nos indivíduos e também foi verificada esta relação comparando-se as diversas populações de acordo com as diferentes faixas etárias.

 

Resultados

            Na análise dos indivíduos (n = 10.074) uma excreção de sódio aumentada em 100 mmol (p. ex., 170 vs 70 mmol – 6 gramas de sal) se associou a uma pressão arterial sistólica 3,1 mmHg a 6,0 mmHg mais elevada e a pressão arterial diastólica 0,1 a 2,5 mmHg maior. Tão ou mais importante do que a verificação de que consumos maiores de sal se associaram a níveis mais elevados de pressão arterial foi a constatação de que quanto maior a ingestão de sal mais elevados os níveis de pressão arterial com o aumento da idade. Nas diferentes populações (n=52) o aumento na pressão arterial com 30 anos de diferença (aos 25 e 55 anos) foi de 10-11 mmHg (PA sistólica) e 6 mmHg (PA diastólica) para cada aumento de 100 mmol na excreção de sódio. Exemplificando, a curva do aumento na pressão arterial com a idade foi mais acentuada nas localidades onde a ingestão de sal é maior (população portuguesa, por exemplo), e a pressão arterial simplesmente não aumentou com maiores idades nas populações em que o consumo de sal era muito baixo, como é o caso dos índios yanomamis no Brasil e outras populações remotas.

 

Aplicação para prática clínica

            Os resultados deste artigo demonstram que se um indivíduo jovem não quer ser hipertenso no futuro, uma das formas de se evitar isso é diminuir a ingestão diária de sal hoje           

            Como pudemos revisar no comentário deste estudo e no estudo da semana anterior o consumo excessivo de sal é um dos mecanismos na gênese da hipertensão arterial e aumenta diretamente o risco cardiovascular e a mortalidade (ver também: restrição de sal na hipertensão resistente). É possível que este efeito seja ainda mais importante na população brasileira, que herdou a tradição portuguesa de salgar os alimentos em excesso.4,5 No entanto, apesar de todas estas evidências o tratamento dos pacientes muitas vezes é focado no arsenal terapêutico medicamentoso, e outras medidas eficazes tais como estímulo a atividade física regular, emagrecimento para os pacientes com sobrepeso, alimentação saudável e diminuição do sal muitas vezes não são abordadas com a ênfase necessária. Outro ponto importante a ser debatido é se medidas de saúde pública deveriam ser tomadas a este respeito. Além de medidas educacionais – tanto para a população geral e pacientes como para os médicos, não seria o caso de se recomendar uma redução gradual na quantidade de sal nos alimentos industrializados? Sabe-se que grande parte da ingestão de sal na dieta ocidental vem deste tipo de alimentos e diversas publicações tem discutido a necessidade de implementar medidas como esta. Na próxima semana comentaremos uma revisão sobre este assunto publicada recentemente.6

 

Bibliografia

1.     Intersalt Cooperative Research Group. Intersalt: an international study of electrolyte excretion and blood pressure. Results for 24 hour urinary sodium and potassium. BMJ 1988;297:319-28. [Link para o abstract]

2.     Elliot P et al. Intersalt revisited: further analyses of 24 hour sodium excretion and blood pressure within and across populations BMJ 1996;312:1249-1253 [Link para o artigo completo]

3.     Stamler J. The INTERSALT study: background, methods, findings, and implications. Am J Clin Nutr 1997; 65 (suppl): 626S-42S [Link livre para o artigo completo]

4.     Olmos RD, Benseñor IM. Dietas e hipertensão arterial: Intersalt e estudo DASH. Rev Bras Hipertens 8: 221-4, 2001 [Link para o Artigo Completo].

5.     Olmos RD, Benseñor IM. Salt and Brazilian ancestry. Sao Paulo Med J/Rev Paul Med 2001; 119(4):130 [Link para Editorial].

6.     Brown IJ et al. Salt intakes around the world: implications for public health. International Journal of Epidemiology 2009;38:791–813 [Link para o abstract]

 

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