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Suspensão de aspirina em pacientes com doença cardiovascular

Autor:

Carlos Eduardo Marcello

Médico Assistente da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP).

Última revisão: 25/10/2011

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Área de Atuação: Medicina Ambulatorial

 

Especialidade: Clínica Médica, Medicina de Família e Comunidade, Cardiologia

 

Resumo: este estudo mostra que pacientes com doença cardiovascular conhecida, que suspendem aspirina em baixas doses, têm um maior risco de desenvolver infarto do miocárdio não fatal.

 

Contexto clínico

Aspirina em baixas doses (75 a 300 mg) previne eventos cardiovasculares adversos em pacientes ambulatoriais com doença cardiovascular estabelecida. Entretanto, depois de algum tempo do início do tratamento, cerca de 50% dos pacientes suspendem o seu uso, algumas vezes por efeitos colaterais, outras vezes por nenhum motivo aparente. Este estudo foi realizado com a finalidade de se averiguar a existência de complicações isquêmicas ou morte associadas a essa suspensão.

 

O estudo

Trata-se de um estudo de caso-controle aninhado (ver Glossário). Um grande banco de dados britânico, de atendimento primário ambulatorial, foi usado para identificar 39.513 pacientes, com idades entre 50 e 84 anos, que receberam, pela primeira vez, a prescrição de uma receita de aspirina em baixa dose para a prevenção secundária de doença cardiovascular entre janeiro de 2000 e dezembro de 2007. No decorrer dos 3,2 anos seguintes, 876 pacientes sofreram infarto agudo do miocárdio (IAM) e 346 morreram por causa de doença coronariana. Este grupo de pacientes foi comparado com um grupo controle de 5.000 indivíduos, que não apresentaram IAM ou morte coronariana, proveniente de modo aleatório dos mesmos 39.513 pacientes, pareado por sexo, idade e ano de inclusão no estudo. Após ajuste para múltiplos fatores de confusão (fatores de risco cardiovasculares tradicionais, comorbidades e uso de outros fármacos), os pacientes que suspenderam recentemente o uso de aspirina (por um período de 31 a 180 dias) tiveram um risco maior de IAM não fatal do que os pacientes aderentes (o risco foi 63% maior). Não houve associação significativa entre a suspensão recente de aspirina em baixas doses e morte por doença coronariana.

 

Aplicações para a prática clínica

Este estudo confirma a importância da aspirina na prevenção secundária das doenças cardiovasculares. A causa mais comum da suspensão de aspirina foi a não adesão, e não a presença de efeitos indesejados. Pacientes com doença cardiovascular não deveriam suspender aspirina em baixas doses na ausência de efeitos colaterais.

A não adesão a tratamentos definitivamente efetivos é um dos grandes problemas na assistência primária. Seguir as orientações propostas são a via final comum de todo o processo de assistência médica. A não adesão desperdiça todos os esforços e gastos envolvidos nesse processo. Os pacientes podem não tomar os medicamentos prescritos por esquecimento, por dificuldades de aquisição, por não terem convicção sobre a sua importância terapêutica ou por causa de eventos adversos. Em toda a consulta, é válido gastar um tempo extra com a certificação do uso de todos os medicamentos prescritos, de suas doses e de eventuais efeitos colaterais ou preocupações do paciente em relação aos diferentes fármacos prescritos e à sua real necessidade. Grande parte destes pacientes não compreendem a necessidade de uso contínuo de muitas medicações, uma vez que são assintomáticos. Esse zelo pode compensar o esforço e os gastos, promovendo a melhora da saúde de nossos pacientes.

 

Glossário

Estudo de caso-controle aninhado: é um estudo de caso-controle conduzido dentro de uma coorte conhecida. Por este motivo, podem reproduzir todas as informações de uma coorte, inclusive o cálculo da incidência. Os casos serão todos os indivíduos que apresentam a doença durante o período de acompanhamento. Os controles são selecionados entre os indivíduos sob risco no momento em que cada caso ocorre. Este tipo de seleção de controles é chamado de amostragem por densidade de incidência. A ideia é permitir uma comparação dos casos com um subconjunto da coorte sob risco no momento da sua ocorrência. É uma estratégia que tem sido cada vez mais utilizada para analisar alguns desfechos específicos no interior de coortes já constituídas.

 

Bibliografia

1.     García Rodríguez LA, Cea-Soriano L, Martín-Merino E, Johansson S. Discontinuation of low dose aspirin and risk of myocardial infarction: Case-control study in UK primary care. BMJ 2011; 343:d4094 [Link para artigo original] (Fator de impacto: 12.827).

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