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Diminuição de Erros Médicos com Programa de Handoff

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 17/02/2014

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Contexto Clínico

Nos hospitais, handoff é uma situação em que controle ou responsabilidade sobre um paciente passa de um profissional para outro, e em que informações importantes sobre o paciente também são trocadas.

Erros de comunicação são uma das mais importantes causas de eventos adversos em hospitais. Isso é tão importante que agências dos EUA como a AHRQ (Agency for Healthcare Research and Quality) e o ACGME (Accreditation Council for Graduate Medical Education) identificaram a melhoria dos handoffs como uma prioridade nos esforços, de âmbito nacional, para aprimorar a segurança do paciente nos EUA.  Entretanto, muitas instituições não têm procedimentos sólidos que garantam alta qualidade nos handoffs.

Estudos que avaliaram handoffs levantaram questões importantes sobre o seu processo e conteúdo. Algumas estratégias sugeridas para melhorar os handoffs e reduzir erros médicos incluem treinamento em comunicação, uso de regras mnemônicas para padronizar handoffs, reestruturação da handoffs verbais minimizando interrupções e envolvendo todos os membros da equipe e o uso de instrumentos informatizados ou mesmo impressos/escritos. 

No estudo a ser apresentado, os autores procuraram combinar estas intervenções de melhoria para os handoff em um pacote de intervenções a serem aplicados por médicos residentes em dois serviços gerais de pediatria. Além disso, avaliaram a associação desta intervenção com alterações nas taxas de erro médico, falhas de comunicação e fluxo de trabalho do residente.

 

O Estudo

Este foi um estudo prospectivo de intervenção que incluiu 1.255 admissões, sendo 642 antes e 613 após a intervenção. Envolveu 84 médicos residentes (42 antes e 42 após a intervenção) nos períodos de julho – setembro de 2009 e novembro de 2009 – Janeiro de 2010 em duas unidades de internação no Hospital infantil de Boston – EUA.

As intervenções quanto ao handoffs dos residentes instituídas foram as seguintes: comunicação padronizada e treinamento para realizar os handoff, o uso de uma regra mnemônica verbal, e uma nova estrutura de handoff em equipe, além da designação de um local calmo para realizar o handoff. Em uma unidade, um instrumento de handoff computadorizado ligado ao prontuário eletrônico foi introduzido também. Os desfechos primários avaliados foram as taxas de erros médicos e eventos adversos evitáveis medidos pela vigilância sistemática diária. Os desfechos secundários foram omissões no documento de handoff impresso e o tempo – movimentação da atividade do residente.

Os erros médicos diminuíram de 33,8 por 100 admissões, para 18,3 por 100 admissões (P < 0,001 ), e os eventos adversos evitáveis caíram de 3,3 por 100 admissões  para 1,5 por 100 admissões (P = 0,04 ) após a intervenção. Houve menos omissões de elementos-chave de realização dos handoff chave quando utilizados os documentos de handoff impressos, especialmente na unidade que recebeu o instrumento de handoff computadorizado (reduções significativas de omissões em 11 das 14 categorias com ferramenta informatizada; reduções significativas em 2 de 14 categorias sem ferramenta informatizada). Os médicos passaram maior percentagem de tempo em um período de 24 horas à beira do leito do paciente após a intervenção (8,3%) vs 10,6% (P = 0,03 ) . A duração média dos handoffs verbais por paciente não se alterou. Handoffs verbais eram mais prováveis de ocorrer em um local tranquilo (33,3% vs 67,9%; P = 0,03 ) e local privado (50,0% vs 85,7%; P = 0,007 ) após a intervenção.

 

Aplicações para a Prática Clínica

Neste estudo prospectivo de intervenção, vemos um importante resultado para o contexto de segurança do paciente. A implementação de um pacote de handoff foi associada  a uma redução significativa nos erros médicos e eventos adversos evitáveis em crianças hospitalizadas. Ocorreram melhorias nos processos de handoff verbal e escrita.  Importante salientar que fluxo de trabalho dos médicos residentes não se alterou de forma adversa.

Um editorial publicado sobre o estudo afirma que os resultados demonstram evidências bastantes importantes a respeito do impacto de um esquema de handoff bem padronizado. Isso porque a evidência apresentada mostra que a melhoria dos handoffs pode realmente reduzir os danos aos pacientes. Sendo assim, este estudo nos dá base para confiar que implementar uma forma de passagem de casos mais estruturada e segura é fundamental para melhorar a segurança dos pacientes em hospitais.

 

Bibliografia

1.                  Starmer AJ et al. Rates of Medical Errors and Preventable Adverse Events Among Hospitalized Children Following Implementation of a Resident Handoff Bundle. JAMA 2013;310(21):2262-2270. (link para o artigo).

2.                  Horwitz LI. Does Improving Handoffs Reduce Medical Error Rates? JAMA 2013;310(21):2255-2256. (link para o artigo).

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