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Incidência de Demência ao longo de três décadas

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 11/04/2016

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Contexto Clínico

Espera-se que a prevalência de demência suba à medida que cresce também a expectativa de vida. Vemos uma mudança na pirâmide etária com maior número de idosos. Por outro lado, há evidências de que isso não é completamente linear, uma vez que em países de alta renda esse aumento não está ocorrendo. As tendências temporais são mais bem obtidas através da monitorização contínua de uma população por um longo período com o uso de critérios diagnósticos consistentes. Apresentaremos a seguir um estudo que tenta desvendar as tendências de demência na população. Este estudo tem como base os participantes do Framingham Heart Study, famoso por produzir dados do ponto de vista cardiovascular.

 

O Estudo

Os participantes do Framingham Heart Study têm estado sob vigilância para a incidência de demência desde 1975. Nesta análise, que incluiu 5.205 pessoas de 60 anos ou mais de idade, foram utilizados modelos de riscos proporcionais ajustados para idade e sexo para determinar a incidência de cinco anos de demência, durante cada uma das quatro épocas. Exploramos também as interações entre época e idade, sexo, estado, apolipoproteína E e nível educacional, e foram examinados os efeitos dessas interações, bem como os efeitos de fatores de risco vascular e doença cardiovascular sobre as tendências temporais.

As taxas de risco cumulativas ajustadas para sexo para a demência foram de 3,6 por 100 pessoas durante a primeira época (final dos anos 1970 e início de 1980), 2,8 por 100 pessoas durante a segunda época (final dos anos 1980 e início de 1990), 2,2 por 100 pessoas durante a terceira época (final de 1990 e início dos anos 2000), e 2,0 por 100 pessoas durante a quarta época (final dos anos 2000 e início dos anos 2010). Em relação à incidência durante a primeira época,  diminuiu em 22%, 38% e 44% durante a segunda, a terceira e a quarta épocas, respectivamente. Essa redução de risco foi observada apenas entre pessoas que tiveram pelo menos um diploma do ensino médio (hazard ratio, 0,77; IC95%, 0,67-0,88). A prevalência da maioria dos fatores de risco vascular (com exceção da obesidade e diabetes) e o risco de demência associada com acidente vascular cerebral, fibrilação atrial, ou insuficiência cardíaca diminuíram ao longo do tempo, mas nenhuma dessas tendências explica completamente a diminuição na incidência de demência.

 

Aplicações Práticas

Esse é um estudo observacional bastante interessante, a despeito de termos que levar em conta que foi feito com uma população de país desenvolvido. Notamos nitidamente pelo estudo uma queda gradativa da incidência de demência para cada 100 indivíduos, saindo de 3,6 por 100 pessoas nos anos 1970 e início da década de 1980, para atingir 2,0 por 100 pessoas no final dos anos 2000 e início dos anos 2010. Uma queda significativa ao longo de três décadas.

Se o estudo não conseguiu esclarecer ao certo as razões para isso, mesmo com o envelhecimento da população, talvez possamos criar algumas hipóteses. O primeiro dado é que a queda de risco se relacionou com a escolaridade (ter ao menos ensino médio). Isso talvez mostre que nível educacional possa fazer diferença se a cada geração houver mais pessoas com níveis maiores de escolaridade. Aqui já vemos uma relação direta com políticas de educação nacionais. Outras coisas que podemos inferir é que ao longo dos anos os hábitos podem estar sendo influenciados positivamente, tanto do ponto de vista alimentar quanto de atividade física, dado que isso tem muito mais divulgação hoje em dia do que há décadas atrás. A despeito de ser a mesma população estudada ao longo dos anos, pode haver  uma influência de hábitos mais saudáveis. Resumindo, parece que a prevenção de demência possa em algum momento ser comprovadamente associada a medidas universais de prevenção primária de doenças e investimento em educação populacional.

 

Referências

Satizabal CL et al. Incidence of Dementia over Three Decades in the Framingham Heart Study. N Engl J Med 2016; 374:523-532

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