Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 02/08/2016
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Estuda-se muito o doente crítico. Entretanto há outra “vítima” dessa situação, que é o cuidador do paciente que passou por terapia intensiva. Poucos recursos estão disponíveis para apoiar os cuidadores de pacientes que sobreviveram à doença crítica; consequentemente, a própria saúde dos cuidadores pode ser comprometida. Uma pesquisa procurou estudar quais características do paciente e do cuidador foram associadas a diferentes resultados de saúde dos cuidadores durante o primeiro ano após a alta do paciente a partir de uma unidade de terapia intensiva (UTI).
Este foi um estudo prospectivo observacional com 280 cuidadores de pacientes que receberam 7 ou mais dias de ventilação mecânica em uma UTI. Usando dados de hospitais e questionários autoadministrados, foram coletadas informações sobre características do cuidador e do paciente, incluindo sintomas depressivos no cuidador, bem-estar psicológico, qualidade de vida, senso de controle sobre a vida e efeito da prestação de cuidados em outras atividades. As avaliações ocorreram em 7 dias e 3, 6 e 12 meses após a alta da UTI.
A idade média dos cuidadores foi de 53 anos, 70% eram mulheres, e 61% estavam cuidando de um cônjuge. Uma grande porcentagem dos cuidadores (67% inicialmente e 43% em 1 ano) relatou altos níveis de sintomas depressivos. Os sintomas depressivos diminuíram pelo menos parcialmente, com o tempo em 84% dos cuidadores, mas não nos outros 16%. As variáveis que foram significativamente associados com piores resultados de saúde mental em cuidadores foram: idade mais jovem, maior efeito do tratamento do paciente em outras atividades, menor apoio social, menor senso de controle sobre a vida e menor crescimento pessoal. Não há variáveis do paciente que foram consistentemente associados a resultados do cuidador ao longo do tempo.
Interessante notar por este estudo que a maioria dos cuidadores de pacientes criticamente doentes relatou altos níveis de sintomas depressivos, que geralmente persistiram até 1 ano e não diminuíram em alguns cuidadores. Estas pessoas se tornam segundas vítimas da doença de seus familiares / parentes / cônjuges, mas normalmente não recebem qualquer suporte de forma sistemática. Com o envelhecimento da população, e com cada vez mais doentes passando por terapia intensiva, torna-se uma necessidade social traçar estratégias que minimizem o impacto destes pacientes na vida de outras pessoas com vida ativa.
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