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Efeito do Consumo de Café-da-manhã no Ganho de Peso

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 10/04/2019

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Contexto Clínico

 

A obesidade é considerada uma das questões definidoras de saúde desta época e é reconhecida como a forma mais prevalente de desnutrição em todo o mundo, com taxas de rápido crescimento global. A associação da obesidade com risco aumentado de doenças crônicas (por exemplo, doença cardiovascular, diabetes melito e osteoartrite) significa que é o principal contribuinte para a carga global de doenças. Em países de alta renda, o ganho de peso está aumentando em incidência em todos os grupos populacionais; assim, esforços para gerenciar os efeitos desse problema foram realizados pelo Governo e por organizações de saúde pública.

Embora as estratégias voltadas à prevenção e ao manejo da obesidade devam ser multifatoriais, muitas recomendações dietéticas internacionais sugerem a inclusão regular do café da manhã para o controle do peso e como fator de proteção contra a obesidade. Essas recomendações são frequentemente derivadas da suposição de que pular o café da manhã leva à supercompensação de energia no final do dia. Além disso, é postulado que as propriedades saciantes dos alimentos declinam; portanto, comer no início do dia poderia promover maior saciedade do que comer no final do dia.

No entanto, apesar dessa recomendação comum para o controle de peso tanto dos profissionais de saúde quanto da comunidade leiga, a maioria dessas recomendações baseia-se nos achados de estudos observacionais. Estes conceitos têm potencial para viés de seleção e confundimento, porque aqueles indivíduos que tomam café da manhã podem diferir daqueles que não o fazem de várias formas, incluindo o status socioeconômico e a adoção de outros comportamentos relacionados à saúde, como o consumo de uma dieta saudável.

 

O Estudo

 

Esta é uma revisão sistemática que incluiu ensaios clínicos randomizados de países de alta renda em adultos comparando consumo de café da manhã com ausência de consumo de café da manhã que incluíssem também medida de peso corporal ou consumo de energia. Metanálises do efeito do consumo de café da manhã no peso e no consumo de energia diária foram realizadas.

Dos 13 estudos incluídos, sete examinaram o efeito do café da manhã na mudança de peso, e 10 examinaram o efeito sobre a ingestão de energia. A metanálise dos resultados encontrou uma pequena diferença no peso favorecendo os participantes que saltaram o café da manhã (diferença média de 0,44kg; intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,07 a 0,82), mas houve alguma inconsistência entre os resultados (I2 = 43%).

Os participantes que consumiram café da manhã tiveram maior consumo diário de energia do que aqueles designados a pular o café da manhã (diferença média de 259,79kcal/dia; IC 95%, 78,87 a 440,71; 1kcal = 4,18kJ), apesar de substancial inconsistência nos resultados dos testes (I2 = 80%). Todos os estudos incluídos apresentavam risco de viés alto ou pouco claro em, pelo menos, um domínio e tinham apenas seguimento de curto prazo (período médio de 7 semanas para o peso, 2 semanas para a ingestão de energia). Como a qualidade dos estudos incluídos foi baixa, os achados devem ser interpretados com cautela.

 

Aplicação Prática

 

Esta revisão sistemática de ensaios clínicos randomizados que examinaram a mudança de peso em adultos consumindo ou pulando o café da manhã não encontrou evidências para apoiar que o consumo de café da manhã ou seu não consumo promove perda ou ganho de peso. A metanálise dos ensaios clínicos randomizados não demonstrou perda de peso em participantes que consumiram café da manhã em comparação com aqueles que não o fizeram.

Grande parte do apoio prévio para uma associação positiva entre a alimentação do café da manhã e o peso saudável vem de estudos observacionais. No entanto, há dados que sugerem que esses achados sobre o consumo regular de café da manhã em estudos observacionais refletem um estilo de vida saudável mais amplo. Quem tem mais saúde e maior nível socioeconômico é mais propenso a tomar o café da manhã como parte de suas escolhas alimentares saudáveis.

Essa noção é apoiada em um estudo de coorte de 2007, que observou que os participantes que consumiam o café da manhã também tinham maior probabilidade de ter menor consumo de álcool. Assim, a discordância entre os achados dos ensaios clínicos randomizados e os estudos observacionais provavelmente reflete a confusão residual por fatores socioeconômicos e estilos de vida saudáveis, e destaca a importância de estudos controlados para reduzir esse fator de confusão.

 

Bibliografia

 

1. Sievert K et al. Effect of breakfast on weight and energy intake: systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials. BMJ 2019;364:l42

 

 

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