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Tempestade de Citocinas

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 15/02/2021

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Caso

 

Você recebe,em sua UTI, um paciente transferido de outro serviço, sexo masculino, 58 anos,obeso, portador de diabetes melito tipo 2, com PCR positivo para SARS-CoV-2. Opaciente está sob intubação orotraqueal, em ventilação mecânica apresentando relaçãoPaO2/FiO2 de 180, pressão arterial sistólica de 92 mmHg à custa de 0,3 mcg/minde noradrenalina, com lesão renal aguda, apresentando creatinina de 3,6 mg/dL,além de dímero-D de 1150, PCR elevada, elevação de transaminases ecanaliculares, além de edema difuso. É possível que seja uma grande disfunçãoorgânica pela covid-19, porém você também levanta a hipótese de tempestade decitocinas.

 

Discussão

 

?Tempestadede citocinas? é uma expressão que abrange vários distúrbios de desregulaçãoimunológica caracterizada por sintomas constitucionais, inflamação sistêmica edisfunção de múltiplos órgãos que podem levar à falência de múltiplos órgãos setratados inadequadamente. A primeira descrição de uma tempestade de citocinasocorreu há cerca de 10 anos após terapia com células T de receptor de antígenoquimérico (CAR). Historicamente, a tempestade de citocinas também já foi referidacomo uma síndrome influenza-like que ocorreu após infecções sistêmicas,como sepse, e após imunoterapias.

Os casospodem progredir rapidamente para coagulação intravascular disseminada comoclusão vascular ou hemorragia catastrófica, dispneia, hipoxemia, hipotensão,desequilíbrio hemostático, choque vasodilatador e morte. Muitos pacientesapresentam sintomas respiratórios, incluindo tosse e taquipneia, que podemprogredir para a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), comhipoxemia, que pode exigir ventilação mecânica. A combinação dehiperinflamação, coagulopatia e baixa contagem de plaquetas coloca os pacientescom tempestade de citocinas em alto risco de hemorragia espontânea.

Em casosgraves de tempestade de citocinas, insuficiência renal, lesão hepática aguda oucolestase e cardiomiopatia relacionada ao estresse ou semelhante a takotsubotambém podem se desenvolver. A combinação de disfunção renal, morte de célulasendoteliais e hipoalbuminemia pode levar à síndrome de vazamento capilar eanasarca ? alterações semelhantes às observadas em pacientes com câncertratados com alta dose de interleucina-2. A toxicidade neurológica associada àimunoterapia com células T é referida como síndrome de neurotoxicidadeassociada a células efetoras imunológicas ou síndrome de liberação de citocinas,com encefalopatia associada.

Uma amplagama de anormalidades clínicas e laboratoriais pode ser observada na tempestadede citocinas. No entanto, todos os casos envolvem níveis elevados de citocinascirculantes, sintomas inflamatórios sistêmicos agudos e disfunção orgânicasecundária (frequentemente renal, hepática ou pulmonar).  Você pode conferir um resumo dos sinais esintomas da tempestade de citocinas na Tabela 1.

 

Tabela. Sinais e sintomas da tempestade de citocinas

 

Sintomas gerais

Febre

Anorexia

Fadiga

Pulmão

Pneumonite

Edema pulmonar

Dispneia

Hipoxemia

SDRA

Fígado

Hepatomegalia

Elevação de enzimas hepáticas

Aumento de hepcidina

Hipoalbuminemia

Colestase

Insuficiência hepática

Rins

Lesão renal

Insuficiência renal

Sistema nervoso

Confusão

Delirium

Afasia

Convulsões

Coração

Hipotensão

Taquicardia

Cardiomiopatia

Trato gastrintestinal

Náuseas

Vômitos

Diarreia

Ascite

Sistema reumatológico

Artrite

Artralgia

Vasculite

Pele

Rash

Edema

Sistema linfático e vascular

Citopenia, anemia, leucocitose

Coagulopatia

Hiperferritinemia

Aumento de PCR e dímero-D

Elevação de citocinas (IL-1, IL-6, Interferon-gama) e fatores de crescimento (VEGF ? fator de crescimento endotelial vascular)

Dano endotelial e permeabilidade vascular aumentada

Síndrome de vazamento capilar

Choque vasodilatador

Hemorragia espontânea

Linfadenopatia

 

 

Bibliografia


1.            Fajgenbaum DC, June CH. Cytokine Storm. NEngl J Med 2020; 383:2255-2273

2.            Sinha P, Matthay MA, Calfee CS. Is a ?cytokinestorm? relevant to COVID-19? JAMA Intern Med 2020;180:1152-1154.

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