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Antidepressivos para Tratamento de Lombalgia Cervicalgia e Osteoartrite

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 10/03/2021

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Contexto Clínico

 

Dor nas costas (lombalgia ou cervicalcom ou sem sintomas radiculares) e osteoartrite são as principais causas deincapacidade em todo o mundo. A prevalência de dor lombar e cervical é de 7,3%e 5,0%, respectivamente. Os sintomas de quadril e joelho relacionados àosteoartrite afetam 12% da população global. Em 2016, as dores nas costas e naosteoartrite representaram US$ 214,5 bilhões em gastos com saúde nos EstadosUnidos, com o maior gasto para dor nas costas, entre todas as condições desaúde. As prescrições de antidepressivos estão aumentando em todo o mundo parauma gama de indicações, e o uso de antidepressivos para tratar a dor,especialmente a dor crônica, também é comum, sendo que os antidepressivos são oquarto medicamento mais prescrito para a dor lombar nos Estados Unidos. Osantidepressivos são endossados ??pela maioria (75%) das diretrizes de práticaclínica para dor lombar e por duas diretrizes de osteoartrite publicadasrecentemente. No entanto, as evidências que dão suporte ao uso deantidepressivos são incertas.

 

O Estudo

 

Apresentamos umarevisão sistemática e metanálise que selecionou ensaios clínicos randomizadoscomparando a eficácia ou segurança, ou ambos, de qualquer medicamentoantidepressivo com placebo (ativo ou inerte) em participantes com lombalgia oudor no pescoço, ciática ou osteoartrite de quadril ou joelho. Dor e incapacidadeforam os desfechos primários avaliados. Os escores de dor e incapacidade foramconvertidos em uma escala de 0 (sem dor ou incapacidade) a 100 (pior dor ouincapacidade). Um modelo de efeitos aleatórios foi usado para calcular asdiferenças de médias ponderadas e intervalos de confiança de 95%. A segurança(qualquer evento adverso, eventos adversos graves e proporção de participantesque desistiram dos ensaios devido a eventos adversos) foi um resultadosecundário. O risco de viés foi avaliado com a ferramenta da ColaboraçãoCochrane, e a certeza das evidências, com a classificação da estrutura deavaliação, desenvolvimento e avaliação de recomendações (GRADE).

No total, 33estudos (5.318 participantes) foram incluídos. Evidências de certeza moderadamostraram que os inibidores da recaptação da serotonina-noradrenalina (SNRIs)reduziram a dor nas costas (diferença média -5,30, IC 95% -7,31 a -3,30) em 3 a13 semanas, e evidências de baixa certeza mostraram que os SNRIs reduziram ador da osteoartrite (-9,72, -12,75 a -6,69) em 3 a 13 semanas. Evidências decerteza muito baixa mostraram que os SNRIs reduziram a dor ciática em duassemanas ou menos (-18,60, -31,87 a -5,33), mas não em 3 a 13 semanas (-17,50, -42,90a 7,89). Evidências de certeza baixa a muito baixa mostraram que osantidepressivos tricíclicos (TCAs) não reduziram a dor ciática em duas semanasou menos (-7,55, -18,25 a 3,15), e sim em 3 a 13 semanas (-15,95, -31,52 a-0,39) e 3-12 meses (-27,0, -36,11 a -17,89). Evidências de certeza moderadamostraram que os SNRIs reduziram a incapacidade por dor nas costas em 3 a 13semanas (-3,55, -5,22 a -1,88) e a incapacidade devido à osteoartrite em duassemanas ou menos (-5,10, -7,31 a -2,89), e evidências de baixa certeza, em 3 a 13semanas (-6,07, -8,13 a -4,02). Os TCAs e outros antidepressivos não reduzirama dor ou a incapacidade causada pelas dores nas costas.

 

Aplicação Prática

 

Este estudo mostraevidências de certeza moderada de que os SNRIs reduzem a dor e a incapacidadeem pessoas com dor nas costas por até três meses, mas esses efeitosprovavelmente não são clinicamente importantes. Para a osteoartrite,encontramos evidências de certeza moderada de que os SNRIs reduzem a dor e aincapacidade em até três meses, e um efeito clinicamente importante na dor nãopode ser excluído. Evidências de baixa certeza mostraram que os TCAs sãoineficazes para dores nas costas e deficiências relacionadas. Os TCAs e os SNRIspodem reduzir a dor em pessoas com ciática. Nessa revisão, apenas os SNRIsaumentaram de forma estatisticamente significativa o risco de eventos adversos.No entanto, o número de estudos avaliando a segurança de outras classes deantidepressivos foi pequeno, os ensaios foram insuficientes para detectar danos,e a certeza das evidências variou de baixa a muito baixa.

Interessantedestacar que participantes com diagnóstico de depressão não se beneficiarammais com antidepressivos para a dor do que aqueles sem depressão. Em ambos ossubgrupos, as melhorias ficaram abaixo do limiar para efeitos clinicamenteimportantes. As diretrizes do Reino Unido e dos Estados Unidos para dor nascostas fornecem recomendações conflitantes sobre o uso de SNRIs, e esta revisãomostra que, embora esses medicamentos sejam eficazes, o efeito é pequeno eimprovável de ser considerado clinicamente importante pela maioria dospacientes; além disso, dois terços dos pacientes que usam SNRIs apresentameventos adversos.

O que podemostirar de lições? Não há como tecer uma recomendação forte a favor do uso deantidepressivos para as síndromes álgicas apresentadas, e há riscos de eventosadversos. O ideal é que os médicos se apropriem dessas informações para revisarsuas práticas e conversar com seus pacientes para permitir melhores decisõescompartilhadas.

 

 

Bibliografia

 

1.            Ferreira Giovanni E, McLachlan Andrew J, Lin Chung-WeiChristine, Zadro Joshua R, Abdel-Shaheed Christina, O?Keeffe Mary et al.Efficacy and safety of antidepressants for the treatment of back pain andosteoarthritis: systematic review and meta-analysis BMJ 2021; 372 :m4825

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