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Uso de Inibidores de Bombas de Próton para Sintomas de Garganta

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 24/08/2021

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Contexto Clínico

 

Sintomas de garganta persistentes sãouma apresentação comum na atenção primária e secundária e incluemprincipalmente rouquidão; a sensação de um nó na garganta (globus);pigarro repetido; muco na garganta ou ?catarro?; tosse; e desconforto nagarganta. A prevalência de globus sozinho em mulheres de meia-idade é decerca de 6%, com incidência populacional ao longo da vida de mais de 40%.

Estudos estimam que doença do refluxogastresofágico (DRGE) afete até 20% da população ocidental. A associação entreDRGE e sintomas de garganta e voz é amplamente citada, e uma década atrás maisda metade dos otorrinolaringologistas britânicos prescreviam inibidores da bombade prótons (IBPs) para sintomas de garganta. O conceito de que há uma ligaçãoentre a DRGE e os sintomas da garganta e da voz tornou-se ainda mais popular,com diretrizes de atenção primária de acesso aberto defendendo o tratamento comIBPs.

 

O Estudo

 

Apresentamosum ensaio clínico randomizado, duplo-cego,pragmático, controlado por placebo feito em oito ambulatórios deotorrinolaringologia no Reino Unido, cujo objetivo foi avaliar o uso de IBPspara tratar sintomas persistentes de garganta. A intervenção consistiu naadministração de 30 mg de lansoprazol 2x/dia ou placebo por 16 semanas. Os participantesforam 346 pacientes com 18 anos ou mais com sintomas persistentes de gargantaque foram randomizados de acordo com o centro de recrutamento e a gravidadeinicial dos sintomas (leve ou grave): 172 para lansoprazol e 174 para placebo. Odesfecho primário avaliado foi a resposta sintomática em 16 semanas medidausando a pontuação do Índice de Sintomas de Refluxo Total (RSI). Os desfechossecundários incluíram resposta aos sintomas em 12 meses, qualidade de vida eaparência da garganta.

De 1.427 pacientes inicialmenteselecionados para elegibilidade, 346 foram recrutados. A idade média da amostrado estudo foi de 52,2 anos (desvio padrão 13,7), 196 (57%) eram mulheres, e 162(47%) tinham sintomas graves na apresentação. Essas características foramequilibradas entre os braços de tratamento. A análise primária foi realizada em220 pacientes que completaram a medida de desfecho primário dentro de umajanela de 14-20 semanas. As pontuações médias do RSI foram semelhantes entre osbraços de tratamento no início do estudo: lansoprazol 22,0 (IC 95%, 20,4 a23,6) e placebo 21,7 (20,5 a 23,0). Melhorias (redução na pontuação do RSI)foram observadas em ambos os grupos: pontuação em 16 semanas: lansoprazol 17,4(15,5 a 19,4) e placebo 15,6 (13,8 a 17,3). Nenhuma diferença estatisticamentesignificativa foi encontrada entre os braços de tratamento: diferença estimadade 1,9 ponto (IC 95%, -0,3 a 4,2 pontos; P = 0,096) ajustada para o local e agravidade dos sintomas basais. O lansoprazol não mostrou benefícios em relaçãoao placebo para nenhuma medida de desfecho secundário, incluindo pontuações noRSI em 12 meses: lansoprazol 16,0 (13,6 a 18,4) e placebo 13,6 (11,7 a 15,5):diferença estimada de 2,4 pontos (-0,6 a 5,4 pontos).

 

Aplicação Prática

 

Este ensaioclínico é muito interessante e traz evidências contrárias às práticasinstituídas dentro de um racional que é arraigado em muitos médicos. Nenhumaevidência foi encontrada de benefício do tratamento com IBPs em pacientes comsintomas persistentes de garganta. Os escores no RSI foram semelhantes entre osgrupos lansoprazol e placebo após 16 semanas de tratamento e no acompanhamentode 12 meses. Ainda que existam evidências do benefício dos IBPs para a DRGE,isso não se traduz em benefícios para sintomas faríngeos.

 

Bibliografia

 

1.            O?Hara J, Stocken D D, Watson G C, FouweatherT, McGlashan J, MacKenzie K et al. Use of proton pump inhibitors to treatpersistent throat symptoms: multicentre, double blind, randomised, placebocontrolled trial BMJ 2021; 372 :m4903

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