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Hepatite B

Última revisão: 30/01/2011

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Reproduzido de:

DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS – GUIA DE BOLSO – 8ª edição revista [Link Livre para o Documento Original]

MINISTÉRIO DA SAÚDE

Secretaria de Vigilância em Saúde

Departamento de Vigilância Epidemiológica

8ª edição revista

BRASÍLIA / DF – 2010

 

Hepatite B

 

CID 10: B16

 

ASPECTOS CLÍNICOS E EPIDEMIOLÓGICOS

Descrição

Doença viral que cursa de forma assintomática ou sintomática (ate formas fulminantes). As formas sintomáticas são caracterizadas por mal-estar, cefaleia, febre baixa, anorexia, astenia, fadiga, artralgia, náuseas, vômitos, desconforto no hipocôndrio direito e aversão a alguns alimentos e ao cigarro. A icterícia, geralmente, inicia-se quando a febre desaparece, podendo ser precedida por colúria e hipocolia fecal. Hepatomegalia ou hepatoesplenomegalia também podem estar presentes. Na forma aguda, os sintomas vão desaparecendo paulatinamente. Algumas pessoas desenvolvem a forma crônica mantendo um processo inflamatório hepático por mais de 6 meses. O risco de cronificação pelo vírus B depende da idade na qual ocorre a infeccao. Assim, em menores de um ano chega a 90%, entre 1 e 5 anos esse risco varia entre 20 e 50% e em adultos, entre 5 e 10%. Portadores de imunodeficiência congênita ou adquirida evoluem para a cronicidade com maior frequência.

 

Agente Etiológico

Vírus da Hepatite B (HBV). Um vírus DNA, da família Hepadnaviridae.

 

Reservatório

O homem. Experimentalmente, chimpanzés, espécies de pato e esquilo.

 

Modo de Transmissão

O HBV é altamente infectivo e facilmente transmitido pela via sexual, por transfusões de sangue, procedimentos médicos e odontológicos e hemodiálises sem as adequadas normas de biossegurança, pela transmissão vertical (mãe-filho), por contatos íntimos domiciliares (compartilhamento de escova dental e laminas de barbear), acidentes perfurocortantes, compartilhamento de seringas e de material para a realização de tatuagens e piercings.

 

Período de Incubação

De 30 a 180 dias (em média, de 60 a 90 dias).

 

Período de Transmissibilidade

De 2 a 3 semanas antes dos primeiros sintomas, mantendo-se durante a evolução clínica da doença. O portador crônico pode transmitir por vários anos.

 

Complicações

Cronificação da infeccao, cirrose hepática e suas complicações (ascite, hemorragias digestivas, peritonite bacteriana espontânea, encefalopatia hepática) e carcinoma hepatocelular.

 

Diagnóstico

Clínico-laboratorial e laboratorial. Apenas com os aspectos clínicos não é possível identificar o agente etiológico, sendo necessária a realização de exames sorológicos. Os exames laboratoriais inespecíficos incluem as dosagens de aminotransferases – ALT/TGP e AST/TGO – que denunciam lesão do parênquima hepático. O nível pode estar ate 25 a 100 vezes acima do normal. As bilirrubinas são elevadas e o tempo de protrombina pode estar aumentado (TP>17s ou INR>1,5), indicando gravidade. Os exames específicos são feitos por meio de métodos sorológicos e de biologia molecular.

 

Quadro 18. Interpretação e conduta do screening sorológico para Hepatite B

HBsAg

Anti-HBc total

Interpretação/Conduta

(+)

(–)

Início de fase aguda ou falso-positivo. Repetir sorologia após 30 dias

(+)

(+)

Hepatite aguda ou crônica. Solicitar anti-HBc IgM

(–)

(+)

Falso-positivo ou cura (desaparecimento do HBsAg). Solicitar anti-HBs

(–)

(–)

Suscetível

 

Quadro 19. Hepatite B Crônica: interpretação dos marcadores sorológicos

Marcador

Significado

HBsAg

Sua presença por mais de 24 semanas é indicativa de hepatite crônica

HBeAg

Na infecção crônica, está presente enquanto ocorrer replicação viral, exceto nas cepas com mutação pré-core (não produtoras da proteína “e”)

Anti-HBe

Sua presença sugere redução ou ausência de replicação viral. Seu surgimento indica melhora bioquímica e histológica

HBV-DNA (quantitativo)

Determina os níveis de HBV-DNA. Pode ser encontrado em qualquer fase da doença, sendo utilizado para monitorar o tratamento

 

Diagnóstico Diferencial

Hepatite por vírus A, C, D ou E; infecções como leptospirose, febre amarela, malária, dengue, sepse, citomegalovírus e mononucleose; doenças hemolíticas; obstruções biliares; uso abusivo de álcool e uso de alguns medicamentos e substâncias químicas.

 

Tratamento

Não existe tratamento específico para a forma aguda. Se necessário, apenas sintomático para náuseas, vômitos e prurido. Como norma geral, recomenda-se repouso relativo até, praticamente, a normalização das aminotransferases. Dieta pobre em gordura e rica em carboidratos e de uso popular, porém seu maior benefício é ser mais agradável para o paciente anorético. De forma prática, deve se recomendar que o próprio paciente defina sua dieta, de acordo com seu apetite e aceitação alimentar. A única restrição relaciona-se a ingestão de álcool, que deve ser suspensa por 6 meses, no mínimo, sendo preferencialmente por 1 ano. Medicamentos não devem ser administrados sem recomendação medica, para não agravar o dano hepático. As drogas consideradas “hepatoprotetoras”, associadas ou não a complexos vitamínicos, não tem nenhum valor terapêutico. A forma crônica da Hepatite B tem diretrizes clínico-terapêuticas definidas por meio de portarias do Ministério da Saúde. Devido à alta complexidade do tratamento, acompanhamento e manejo dos efeitos colaterais, ele deve ser realizado em serviços especializados (média ou alta complexidade do SUS). O mesmo ocorrendo com as formas fulminantes

 

Características Epidemiológicas

Estima-se que o HBV seja responsável por 1 milhão de mortes ao ano e existam 350 milhões de portadores crônicos no mundo. A estabilidade do vírus, variedades nas formas de transmissão e a existência de portadores crônicos permitem a sobrevida e persistência do HBV na população. As infecções materno-infantil (vertical) e a horizontal, nos primeiros anos de vida, ocorrem em regiões de alta endemicidade como África, China e sudeste asiático. Já em regiões de baixa endemicidade, como Europa, EUA e Austrália, a contaminação ocorre na vida adulta, principalmente em grupos de risco acrescido. No Brasil, alguns estudos do final da década de 80 e início de 90 sugeriram uma tendência crescente do HBV em direção à região Sul/Norte, descrevendo três padrões de distribuição da Hepatite B: alta endemicidade, presente na região Amazônica, alguns locais do Espirito Santo e oeste de Santa Catarina; endemicidade intermediária, nas regiões Nordeste, Centro-oeste e Sudeste; e baixa endemicidade, na região Sul do país. No entanto, esse padrão vem se modificando com a politica de vacinação contra o HBV, iniciada sob a forma de campanha em 1989, no estado do Amazonas, e de rotina a partir de 1991, em uma sequência de inclusão crescente de estados e faixas etárias maiores em função da endemicidade local. Assim, trabalhos mais recentes mostram que, na região de Labrea, estado do Amazonas, a taxa de portadores do HBV passou de 15,3%, em 1988, para 3,7%, em 1998. Na região de Ipixuna, no mesmo estado, a queda foi de 18 para 7%. No estado do Acre, estudo de base populacional, em 12 de seus 24 municípios, apresentou taxa de HBsAg de 3,4%. Outros trabalhos também classificam a região Norte como de baixa ou moderada endemicidade, permanecendo com alta endemicidade a região Sudeste do Para. Na região Sul, a região oeste de Santa Catarina apresenta prevalência moderada e o oeste do Paraná, alta endemicidade. Toda a região Sudeste apresenta baixa endemicidade, com exceção do sul do Espirito Santo e do nordeste de Minas Gerais, onde ainda são encontradas altas prevalências. A região Centro-oeste e de baixa endemicidade, com exceção do norte do Mato Grosso, com prevalência moderada. O Nordeste, como um todo, esta em situação de baixa endemicidade. Grupos populacionais com comportamentos sexuais de risco acrescido, como profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens, além de usuários de drogas injetáveis que compartilham seringas, profissionais de saúde e pessoas submetidas à hemodiálise apresentam prevalências maiores que a população em geral.

 

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

Objetivos

Controlar as hepatites virais no Brasil, através do conhecimento da magnitude, tendência e distribuição geográfica e por faixa etária, visando identificar os principais fatores de risco e fortalecer as atividades de vacinação em áreas ou grupos de maior risco.

 

Notificação

Os casos suspeitos e confirmados devem ser notificados e investigados, visando à proteção dos contatos não infectados.

 

Definição de Caso

Suspeita Clínica / Bioquímica

     Sintomático ictérico

-      Indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente (recente ou não), com ou sem sintomas como febre, mal-estar, nauseas, vomitos, mialgia, colúria e hipocolia fecal.

-      Indivíduo que desenvolveu icterícia subitamente e evoluiu para óbito, sem outro diagnóstico etiológico confirmado.

     Sintomático anictérico

-      Indivíduo sem icterícia, que apresente um ou mais sintomas como febre, mal-estar, náusea, vomitos, mialgia e que, na investigação laboratorial, apresente valor aumentado das aminotransferases.

     Assintomático

-      Indivíduo exposto a uma fonte de infeccao bem documentada (na hemodiálise, em acidente ocupacional com exposição percutânea ou de mucosas, por transfusão de sangue ou hemoderivados, procedimentos cirúrgicos/odontológicos/colocação de piercing/tatuagem com material contaminado, por uso de drogas endovenosas com compartilhamento de seringa ou agulha).

-      Comunicante de caso confirmado de hepatite, independente da forma clínica e evolutiva do caso índice.

-      Indivíduo com alteração de aminotransferases no soro, igual ou superior a três vezes o valor máximo normal dessas enzimas, segundo o método utilizado.

 

Suspeito com Marcador Sorológico Reagente

     Doador de sangue

-      Indivíduo assintomático doador de sangue, com um ou mais marcadores reagentes para Hepatite B.

     Indivíduo assintomático com marcador reagente para hepatite viral B.

     Confirmado.

     Indivíduo que preenche as condições de caso suspeito e que apresente um ou mais dos marcadores sorológicos reagentes ou exame de biologia molecular para Hepatite B conforme listado abaixo:

-      HBsAg reagente;

-      Anti-HBc IgM reagente;

-      DNA do VHB detectável.

 

MEDIDAS DE CONTROLE

Incluem a profilaxia pré-exposição, pós-exposição; o não compartilhamento ou reutilização de seringas e agulhas; triagem obrigatória dos doadores de sangue; inativação viral de hemoderivados; e medidas adequadas de biossegurança nos estabelecimentos de saúde. A vacinação e a medida mais segura para a prevenção da Hepatite B. No Brasil, a vacina contra Hepatite B esta disponível nas salas de vacinação do SUS para faixas etárias específicas e para situações de maior vulnerabilidade, conforme descrito a seguir.

 

Faixas Etárias Específicas

- Menores de 1 ano de idade, a partir do nascimento, preferencialmente nas primeiras 12 horas apos o parto.

- Crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos de idade. Em recém-nascidos, a primeira dose da vacina deve ser aplicada logo apos o nascimento, nas primeiras 12 horas de vida, para evitar a transmissão vertical. Caso não tenha sido possível, iniciar o esquema o mais precocemente possível, na unidade neonatal ou na primeira visita ao Posto de Saúde. A vacina contra Hepatite B pode ser administrada em qualquer idade e simultaneamente com outras vacinas do calendário básico.

 

Para Todas as Faixas Etárias

A vacina contra a Hepatite B esta disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), conforme Manual do CRIE, 3a edição, do Ministério as Saúde, 2006, para os seguintes casos:

 

-      vítimas de abuso sexual;

-      vítimas de acidentes com material biológico positivo ou fortemente suspeito de infeccao por VHB;

-      comunicantes sexuais de portadores de HBV;

-      profissionais de saúde;

-      hepatopatias crônicas e portadores de Hepatite C;

-      doadores de sangue;

-      transplantados de órgãos sólidos ou de medula óssea;

-      doadores de órgãos sólidos ou de medula óssea;

-      potenciais receptores de múltiplas transfusões de sangue ou politransfundidos;

-      nefropatias crônicas/dialisados/síndrome nefrótica;

-      convívio domiciliar contínuo com pessoas portadoras de HBV;

-      asplenia anatômica ou funcional e doenças relacionadas;

-      fibrose cística (mucoviscidose);

-      doença de depósito;

-      imunodeprimidos;

-      populações indígenas;

-      usuários de drogas injetáveis e inaláveis;

-      pessoas reclusas (em presídios, hospitais psiquiátricos, instituições de menores, forcas armadas, etc.);

-      carcereiros de delegacias e penitenciárias;

-      homens que fazem sexo com homens;

-      profissionais do sexo;

-      profissionais de saúde;

-      coletadores de lixo hospitalar e domiciliar;

-      bombeiros, policiais militares, policiais civis e policiais rodoviários;

-      profissionais envolvidos em atividade de resgate.

 

O esquema básico de vacinação e de 3 doses, com intervalo de 1 mês entre a primeira e a segunda dose e de 6 meses entre a primeira e terceira dose. O volume a ser aplicado e de 1 ml, em adultos, e 0,5ml, em menores de 11 anos, a depender do laboratório produtor. A imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB), disponível nos Crie, deve ser administrada, usualmente. Em dose única: 0,5ml para recém-nascidos ou 0,06ml/kg de peso corporal, máximo de 5 ml, para as demais idades. A IGHAHB deve ser aplicada por via intramuscular, inclusive na região glútea. Quando administrada simultaneamente com a HB, a aplicação deve ser feita em grupo muscular diferente. E indicada para pessoas não vacinadas, apos exposição ao vírus da Hepatite B, nas seguintes situações:

 

-      prevenção da infeccao perinatal pelo vírus da Hepatite B;

-      vítimas de acidentes com material biológico positivo ou fortemente suspeito de infeccao por HBV, sem vacinação para Hepatite B;

-      comunicantes sexuais de casos agudos de Hepatite B;

-      vítimas de abuso sexual;

-      imunodeprimidos após exposição de risco, mesmo que previamente vacinados.

 

Os portadores e doentes devem ser orientados a evitar a disseminação do vírus adotando medidas simples, tais como usar preservativos nas relações sexuais, não doar sangue, evitar o compartilhamento de seringas e agulhas descartáveis. Recomenda-se, também, consultar as normas para os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais: Recomendações para imunização ativa e passiva de doentes com neoplasias e Recomendações para vacinação em pessoas infectadas pelo HIV.

 

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