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Miocardiopatia Chagásica

Autor:

Lucas Santos Zambon

Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.

Última revisão: 06/05/2016

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Quadro Clínico

Mulher de 58 anos, natural do interior do estado de Goiás, mudou-se para São Paulo recentemente por conta do trabalho do marido. Vem ao seu consultório para continuar o tratamento de seu quadro clínico, cuja história é bastante típica. Ela iniciou sua doença há cerca de 15 anos, com crises de síncope que foram se tornando cada vez mais frequentes. Além disso, passou a ter dispneia aos esforços, edema de membros inferiores e dispneia paroxística noturna. Anos mais tarde recebeu um implante de marca-passo definitivo após, segundo ela, ter tido uma “quase parada cardíaca”(sic). Ela traz uma última radiografia feita poucos meses antes. Ao indagar o tipo de moradia dela durante a vida, ela relata que até o final da adolescência morava em uma casa de barro e madeira. Fica claro então que sua nova paciente tem uma miocardiopatia chagásica.

 

Imagem 1- Radiografia de tórax

 

 

Discussão

Vemos na imagem nitidamente um aumento da silhueta cardíaca e o marca-passo implantado, tudo bastante compatível com a miocardiopatia chagásica.

A doença de Chagas (CD) é causada pelo Trypanosoma cruzi, um protozoário parasita que pode causar miopericardite aguda, bem como miocardite fibrosante crônica. Miocardite de Chagas é a causa mais comum de cardiomiopatia não isquêmica na América Latina.

A história natural da doença de Chagas compreende uma fase aguda e uma fase crônica.

A fase aguda de DC começa após um período de incubação de uma semana a quatro meses após a exposição ao T. Cruzi. A maioria dos pacientes com DC aguda são assintomáticos ou têm uma doença febril inespecífica relativamente leve. O diagnóstico é estabelecido durante a fase aguda em menos do que 10% dos casos. Os sinais e sintomas de comprometimento cardíaco na DC aguda são iguais aos de miocardite ou miopericardite devido a outras causas: dispneia e outros sintomas e sinais de insuficiência cardíaca, dor no peito e arritmias. Sintomas de fase aguda se resolvem tipicamente ao longo de um período de um a três meses.

Durante as primeiras semanas de infecção, testes sorológicos para infecção pelo T. Cruzi são geralmente negativos e outros exames são inespecíficos (incluindo leucocitose com um aumento absoluto na contagem de linfócitos). O diagnóstico baseia-se na detecção de parasitas em circulação por uma variedade de métodos.

A fase crônica inclui duas formas de doença: uma forma latente e uma forma clínica. Esta forma clínica é dividida em doença cardíaca, digestiva e mista. A maioria dos pacientes com doença aguda não tem sintomas ou estes são muito inespecíficos. A forma latente ou indeterminada é composta de pacientes com evidência de infecção pelo T. Cruzi, sem evidência clínica de doença cardíaca ou gastrointestinal. Cerca de 30 a 50% dos pacientes com doença indeterminada eventualmente desenvolve cardiomiopatia chagásica crônica.

Os pacientes com cardiomiopatia chagásica crônica (CCC) podem ser assintomáticos ou apresentar sintomas como dispneia aos esforços, fadiga, palpitações, tonturas, síncope e edema. Os sintomas surgem de insuficiência cardíaca, arritmias cardíacas, e tromboembolismo causado pela CCC. Dor no peito também é comum. Os pacientes com cardiopatia chagásica crônica geralmente apresentam insuficiência cardíaca biventricular embora ocasionalmente a primeira manifestação clínica seja a arritmia cardíaca ou acidente vascular cerebral. Em estudo feito no Brasil com 499 doadores de sangue saudáveis nos quais foi detectado sorologia positiva para T. Cruzi, 24% desenvolveu cardiomiopatia chagásica em média em dez anos. O que é mais grave é que 1 em cada 4 destes pacientes desenvolveu queda de fração de ejeção abaixo de 50%.

 

Referências:

Dias JCP. Acute Chagas Disease. Mem Inst Oswaldo Cruz 1984; 79:17.

 

Marin-Neto JA, Rassi Jr JA, Maciel BC, et al. Chagas Heart Disease. In: Evidence-Based Cardiology, 3rd ed, Yusuf S, Cairns J, Fallen EL, et al. (Eds), BMJ Books, 2010. p.823.

 

Andrade JP, Marin Neto JA, Paola AA, et al. I Latin American Guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas' heart disease: executive summary. Arq Bras Cardiol 2011; 96:434.

 

Rassi A Jr, Rassi A, Marin-Neto JA. Chagas disease. Lancet 2010; 375:1388.

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