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Tabagismo na Gestação e Fraturas na Prole

Contexto Clínico

 

O tabagismo materno durante a gravidez estáassociado à restrição do crescimento fetal e tem sido consistentementeassociado ao menor peso ao nascer em cerca de 150-200 g. Juntamente com reduçãogeral no peso ao nascer, o crescimento esquelético fetal parece serparticularmente suscetível aos efeitos do tabagismo materno. Foi proposta ahipótese de que o tabagismo durante a gravidez compromete o acúmulo de massaóssea fetal ao diminuir a absorção intestinal de cálcio e o suprimento deoxigênio e de nutrientes ao feto em desenvolvimento. Além disso, osconstituintes da fumaça do tabaco, como o cádmio, podem exercer efeitos tóxicosdiretos. As mães que fumam durante a gravidez poderiam predispor seus filhos amaior risco de comprometimento da saúde óssea ao longo da vida.

 

O Estudo

 

Apresentamos um estudo cujo objetivo foi estudar oimpacto do tabagismo materno durante a gravidez nas fraturas da prole duranteos diferentes estágios de desenvolvimento da vida. Foi realizado um estudo decoorte de nascidos com base em registro nacional na Suécia, com um designde comparação entre irmãos. Participaram 1.680.307 pessoas nascidas na Suéciaentre 1983 e 2000 de mulheres que fumavam (n = 377.367, 22,5%) e de mulheresque não fumavam (n = 1.302.940) desde o início da gravidez. O acompanhamentoocorreu até 31 de dezembro de 2014. O desfecho avaliado foi de fraturas poridade atingida até os 32 anos.

Durante um seguimento médio de 21,1 anos, foramobservadas 377.970 fraturas (a taxa de incidência geral padronizada por anocivil de nascimento foi de 11,8 por 1.000 pessoas/ano). A associação entretabagismo materno durante a gravidez e risco de fratura na prole diferiu pelaidade atingida. O tabagismo materno foi associado a uma maior taxa de fraturasna prole antes de 1 ano de idade em toda a coorte (as taxas de fraturaspadronizadas no ano de nascimento naquelas expostas e não expostas ao tabagismomaterno foram de 1,59 e de 1,28 por 1.000 pessoas/ano, respectivamente). Após oajuste para possíveis fatores de confusão, a taxa de risco para o tabagismomaterno em comparação às mães não fumantes foi de 1,27 (intervalo de confiança [IC]de 95%, 1,12 a 1,45). Essa associação seguiu um padrão dose-dependente (emcomparação com não fumar, as taxas de risco para 1-9 cigarros/dia e = 10cigarros/dia foram de 1,20 [IC 95%, 1,03 a 1,39] e de 1,41 [1,18 a 1,69],respectivamente) e persistiu nas comparações entre irmãos, embora comintervalos de confiança mais amplos (comparado às não fumantes, 1,58 [1,01 a2,46]). O tabagismo materno durante a gravidez também foi associado a aumentoda incidência de fraturas na prole dos 5 aos 32 anos em análises de coorte, masessas associações não seguiram um gradiente dose-dependente. Nas análisesintrairmãos, que controlam a confusão por fatores familiares compartilhadosmedidos e não medidos, as estimativas pontuais correspondentes foram todasquase nulas. O tabagismo materno não se associou ao risco de fratura na proleentre 1 e 5 anos de idade em nenhum dos modelos.

 

Aplicação Prática

 

Os resultados desse estudo indicam que o tabagismomaterno durante a gravidez está associado a risco aumentado de fraturas antesde 1 ano de idade. A exposição pré-natal à fumaça do cigarro, no entanto,parece não ter influência biológica mais duradoura no risco de fratura maistarde na infância e até o início da idade adulta. Esses achados sugerem umefeito intrauterino do tabagismo materno durante a gravidez nas fraturas daprole durante o primeiro ano de vida, enquanto as associações com fraturas maistardias na infância e até a idade adulta parecem confundidas por fatoresfamiliares compartilhados pelos irmãos. Temos ainda mais motivos para realizar açõesde cessação de tabagismo para mulheres fumantes em termos de políticaspúblicas.

 

Bibliografia

 

1.            Brand JS et al. Maternal smoking duringpregnancy and fractures in offspring: national register based siblingcomparison study. BMJ 2020;368:l7057