Discutiremos alguns casos clínicos e a indicação de antivirais. Algumas das medicações antivirais comentadas na seção Medicamentos não serão indicadas nestes casos clínicos.
Paciente com 29 anos de idade apresentando quadro de febre baixa e cefaleia há cerca de 7 dias, há 2 dias com alteração comportamental com agitação psicomotora e vômitos, chegou ao PS com Glasgow 13, febril, líquido cefalorraquidiano (LCR) com pleocitose com predomínio linfomononuclear e RM com anormalidades em lobo temporal à direita.
Paciente com 45 anos de idade, quadro de paralisia facial há direita há 1 dia. A paralisia é completa, com incapacidade de fechar o olho. Paciente também refere hiperacusia à direita e alteração na sensibilidade gustativa.
Paciente teve quadro recente de infecção de vias aéreas superiores, evoluiu com zumbido em ouvido e tonturas associadas com movimentação, sintoma com duração por alguns minutos e de forte intensidade, sem melhora completa. Refere ainda sensação de desequilíbrio, náuseas e episódios de vômitos; apresenta nistagmo horizonto-rotatório suprimido com fixação visual, sem outras alterações no exame neurológico.
Paciente obesa (IMC = 34), antecedente de asma em uso de corticoide via oral em baixa dose. Quadro de febre, mialgias e tosse há 2 dias, ausculta e radiografia de tórax sem alterações.
Apresentamos 4 diferentes situações clínicas, potencialmente causadas por infecções virais, e pretendemos discutir a indicação de antivirais nestas situações.
O caso clínico 1 apresenta uma provável encefalite herpética. As encefalites são infecções agudas do parênquima nervoso que determinam febre, cefaleia, confusão mental, rebaixamento do nível de consciência, sinais de acometimento focal cerebral (déficits motores, afasia, assimetria de reflexos, alterações da coordenação etc.) e crises convulsivas parciais ou generalizadas. As encefalites são causadas principalmente pelos chamados vírus neurotrópicos, dos quais o mais importante é o herpes vírus. A porta de entrada depende da forma de contaminação (mordida, picada, inalação), e a viremia pode ser suficiente para invadir o tecido nervoso. Esta invasão ocorre através dos capilares sanguíneos e pode disseminar-se eventualmente pelas meninges. Esse processo depende da imunidade humoral que se opõem ao processo.
A inflamação em parênquima cerebral leva às suas manifestações clínicas. Esta inflamação acomete preferencialmente o lobo temporal unilateral ou bilateralmente no caso da encefalite herpética, na maioria dos casos. A RM demonstra acometimento temporal unilateral. O quadro clínico inclui febre, cefaleia, confusão mental, rebaixamento do nível de consciência, sinais de acometimento focal cerebral (déficits motores, afasia, assimetria de reflexos, alterações da coordenação etc.) e crises convulsivas parciais ou generalizadas; é frequentemente associada com imunosupressão, porém vários casos são descritos em imunocompetentes.
O padrão-ouro para o diagnóstico é o PCR para herpes vírus no LCR, que apresenta sensibilidade de 98% nestes casos, com especificidade entre 94 e 100%. A biópsia cerebral era utilizada antes do advento do PCR, hoje sendo raramente necessária. O LCR apresenta pleocitose linfocítica, com aumento de proteínas e eritrócitos na maioria dos pacientes. A glicose pode estar diminuída, mas valores muito baixos sugerem outro diagnóstico. O EEG encontra alteração com ondas lentas de grande amplitude e ocasionalmente atividade epileptiforme. A RM, conforme comentado, apresenta alteração do sinal em T2 nos lobos temporais e, às vezes, também nos lobos frontais.
A meningoencefalite herpética, quando não tratada, apresenta alta morbimortalidade e, por vezes, graves sequelas. O tratamento específico se faz com aciclovir, na dose de 10 mg/kg EV a cada 8 horas, por 14 a 21dias. O ideal é que a medicação seja prescrita precocemente, antes das seguintes complicações:
alteração do nível de consciência;
dentro das primeiras 24 horas do início dos sintomas;
antes que houver rebaixamento de nível de consciência importante – tratamento iniciado com escore de Glasgow > 9.
A administração por 3 semanas evita a recorrência da infecção. Os cuidados a serem tomados com o uso do aciclovir são relacionados principalmente à função renal. Além do tratamento específico, deve-se tratar o edema cerebral com corticoides (dexametasona 12 ou 16 mg/dia), que diminuem a reação inflamatória do parênquima cerebral. Administrar também anticonvulsivantes (fenitoína por via parenteral, iniciar com dose de ataque de 15 a 20 mg/kg, e, a seguir, dose de manutenção de 100 mg a cada 8 horas) em pacientes com crises convulsivas ou atividade epileptiforme em EEG. A dose deve ser ajustada conforme função renal.
O caso 2 refere-se a um paciente com paralisia facial completa, de início abrupto, associado a hiperacusia e alteração de sensação gustativa. A paralisia facial periférica apresenta várias causas possíveis, entre elas sarcoidose e tumores, mas as infecções virais são, de longe, a mais comum, sendo o vírus do herpes simples o mais frequente, seguido do vírus varicela-zóster. O manejo inclui cuidados com os olhos, com uso de lubrificantes oftálmicos a cada hora, e protetores para os olhos ao dormir, para evitar ceratites.
Um importante estudo, publicado no New England Journal of Medicine, demonstrou benefício com o uso de glicocorticoides nestes pacientes, mas não com antivirais. Um outro estudo, porém, demonstrou benefício com o uso do valaciclovir. Recentemente, no entanto, foi publicado um ensaio clínico de melhor qualidade e com maior número de pacientes com o uso de valaciclovir, associadamente ou não a corticóide (ver: Corticosteróide eficaz e valaciclovir ineficaz no tratamento da paralisia de Bell), onde não foi demonstrado benefício com uso de antiviral. A controvérsia sobre o uso de antivirais na paralisia de Bell está longe de terminar, pois novos estudos sobre este assunto tem surgido. A recomendação é usar prednisona 60 mg/dia por 7 dias, e uso opcional de valaciclovir 500 mg por via oral a cada 8 horas por 7 dias.
O caso 3 refere-se a um quadro de tonturas sugestivo de vertigem periférica, sugerido por uma tontura que poderia ser caracterizada por vertigem, presença de nistagmo horizonto-rotatório sem sinais auditivos. Dentre estas condições, podemos citar:
1. Doença de Meniére: caracterizada por ataques recorrentes de vertigem associados a zumbidos e surdez. Os ataques de vertigem são abruptos, intensos (podem impedir que o paciente fique de pé). Os episódios duram de vários minutos a algumas horas e ocorrem náuseas e vômitos. O nistagmo está presente durante o ataque. Conforme os episódios vão se repetindo, ocorre acometimento progressivo da audição (hipoacusia neurossensorial). Quando a perda auditiva é completa, os ataques de vertigem cessam. A afecção inicia-se mais frequentemente na 5ª década de vida e é devida à hipertensão endolinfática.
2. Vertigem posicional paroxística benigna (canalolitíase): a vertigem ocorre quando o paciente assume certas posições críticas da cabeça, particularmente quando vai se deitar ou levantar. Ao examinar o paciente, não se notam anormalidades auditivas ou evidências de alterações vestibulares. O diagnóstico é feito movendo-se o paciente da posição sentada para a deitada com a cabeça colocada 45° abaixo do plano horizontal e voltada 45° para um dos lados. Após um período de latência de alguns segundos, o indivíduo refere vertigens e nota-se um nistagmo que bate em direção à orelha voltada para baixo que dura menos de 15 segundos. É a causa mais frequente de vertigem e é causado pela liberação de material otoconial que migra para os canais semicirculares e os estimula erroneamente.
3. Neuronite vestibular: processo inflamatório do gânglio de Scarpa que se caracteriza por ataques paroxísticos de vertigem, sem surdez e zumbidos. Ocorre principalmente em adultos jovens. Geralmente há história prévia de uma infecção do trato respiratório superior. A vertigem é intensa e acompanhada de náuseas e vômitos. O exame vestibular mostra paresia de um labirinto e nistagmo que bate para o lado oposto. É uma afecção benigna que tem duração de alguns dias, porém de natureza desconhecida.
4. Herpes zóster otítico: é uma infecção caracterizada por dor no conduto auditivo, seguida por uma erupção vesicular na orelha externa. Podem ser acometidos os VII e VIII nervos cranianos (síndrome de Ramsay-Hunt). Deve ser tratado com antivirais, como aciclovir, valaciclovir ou fanciclovir. É prudente realizar exame do LCR. Se também existe meningite, o tratamento é feito com aciclovir, nas mesmas doses recomendadas para meningoencefalite herpética.
5. Apoplexia labiríntica: consiste em um único ataque abrupto de vertigem severa com náuseas e vômitos, não acompanhado de zumbidos ou surdez, mas que leva à ablação permanente da função labiríntica do lado acometido.
6. Outras: além dos quadros citados, existem muitas outras causas de vertigens, como infecções bacterianas, labirintites serosas devidas a infecções do ouvido médio, labirintites tóxicas por álcool, quinino, salicilatos, gentamicina e estreptomicina, fístulas perilinfáticas e lesões traumáticas dos labirintos.
No caso descrito, a presença de sintomas auditivos e infecção prévia de vias aéreas sugerem quadro de neuronite vestibular. Nesta condição, um estudo demonstrou benefício com corticoide, em dose semelhante à usada na paralisia facial. Novamente o benefício com antiviral não foi demonstrado neste estudo e, no momento, este não é recomendado, apesar da associação importante de neuronite vestibular com infecção periférica pelo herpes vírus.
O tratamento sintomático da vertigem também é importante e inclui:
anti-histamínicos (difenidramina nas doses de 25 a 50 mg/dia). Tem também ação anticolinérgica;
ansiolíticos: diazepam (5 mg 2 a 3 vezes/dia) ou clonazepam (0,25 a 0,5 mg 2 a 3 vezes/dia). Bloqueiam a informação vestibular no nível da formação reticular do tronco encefálico e têm ação anticolinérgica nos núcleos vestibulares;
bloqueadores de canais de cálcio, como a cinarizina (75 a 150 mg/dia) e a flunarizina (15 a 30 mg/dia) por curtos períodos (evitar o uso prolongado). Bloqueiam também a angiotensina e são anticolinérgicos;
Beta-histina: é um agonista específico de receptores H3 da histamina, o que promove liberação de histamina (doses de 16 a 48 mg/dia). Muito útil na síndrome de Meniére e nas vestibulopatias por isquemias;
readaptação vestibular: exercícios ou técnicas para estimulação dos mecanismos compensadores.
O caso clínico 4 refere-se a paciente com quadro de infecção de vias aéreas com febre e tosse, possivelmente associada a infecção por influenza, considerando a epidemia por influenza H1N1 e sua prevalência alta. Esta paciente deve ser considerada como apresentando influenza por H1N1, mesmo sem realização do PCR de swab nasal, que atualmente é indicado apenas para casos com indicação de internação ou em gestantes e profissionais de saúde.
São considerados grupos de risco para infecção pelo H1N1:
crianças menores que 2 anos;
adultos com idade maior ou igual a 60 anos;
gestantes;
obesos com IMC > 30;
imunossuprimidos (infecção pelo HIV, transplantes ou pessoas em uso de medicamentos imunossupressores);
adultos e crianças portadores de doenças crônicas como diabetes, cardiopatias, pneumopatias, hepatopatias, doenças neuromusculares, hematológicas e metabólicas;
profissionais da saúde e cuidadores de instituições de cuidados aos pacientes crônicos.
A paciente apresenta indicação do uso de oseltamivir pela obesidade e antecedente de asma, principalmente considerando que faz uso crônico de corticoides. O oseltamivir é usado em dose de 75 mg VO a cada 12 horas por 5 dias. Tratamento sintomático com paracetamol e dipirona também é indicado. O paciente deve ser aconselhado a retornar ao serviço se houver dispneia ou febre persistente, lembrando que a evidência do benefício do oseltamivir nestes pacientes ainda não existe.
Inibe a síntese de DNA e a replicação viral por competição a deoxiguanosina trifosfato.
Principalmente em infecções herpéticas e por citomegalovírus.
Herpes simples: 200 mg 5 vezes/dia por 10 dias.
Herpes zóster: 800 mg 5 vezes/dia por 10 dias.
Encefalite herpética: 10 mg/kg EV a cada 8 horas por 10 a 14 dias.
Zóster grave em paciente imunodeprimido: 10 a 12 mg/kg a cada 8 horas por 7 a 14 dias.
Diaforese, tremores, exantema, cefaleia, diarreia, náuseas, vômitos e sintomas extrapiramidais são relatados.
Aciclovir®, Zoviral® e Zovirax® em comprimidos de 200 e 400 mg e frasco-ampola de 250 mg.
Sem indicações de monitoração específica.
Classe C, mas provavelmente seguro na lactação.
Aumenta os efeitos da meperidina e do metotrexato.
Bloqueia uncoating do vírus Infuenza.
Uso em infecções por vírus Influenza.
100 mg por via oral a cada 12 horas ou 200 mg 1 vez/dia.
Tremores, nervosismo, cefaleia, retenção urinária, insônia, náuseas, anorexia, edema periférico, hipotensão ortostática e, raramente, insuficiência cardíaca.
Mantidam® comprimidos de 100 mg.
Sem indicações de monitoração específica.
Classe C.
Aumenta a toxicidade de anticolinérgicos e anti-histamínicos.
Inibe a HSV-2 polimerase.
Herpes simples e varicela zóster.
Herpes simples: 250 mg via oral a cada 8 horas por 5 a 7 dias.
Herpes zóster: 500 mg a cada 8 horas por 7 dias.
Cefaleia, náuseas, diarreia, fadiga, febre e vertigens são relatados, assim como alterações gastrintestinais desde constipação a diarreia.
Famvir® comprimidos de 125 mg.
Em caso de terapia a longo prazo, fazer hemograma completo periódico.
Classe B.
Aumenta níveis séricos de digoxina, probenecida e teofilina.
Inibidor competitivo de muitas das polimerases do RNA/DNA viral.
Tratamento de infecções por citomegalovírus, herpes simples e zoster
Dose de 60 mg/kg a cada 8 horas por 14 a 21 dias, realizar a infusão em 1 hora.
Nefrotoxicidade, neuropatia periférica, arritimias, distúrbios hidroeletrolíticos com hipocalcemia, hipercalcemia, também alterações de fósforo, magnésio e potássio.
Foscavir® em ampolas com 600 mg/250 mL ou 1.200 mg/500 mL.
Sem indicações específicas de monitoração.
Classe C.
Aumenta a nefrotoxicidade de pentamidina, anfotericina B e aminoglicosídeos.
Inibe síntese do DNA viral.
Tratamento de infecções por citomegalovírus.
2,5 a 5 mg/kg a cada 8 horas por 14 a 21 dias. Em imunossuprimidos dose de 6 mg/kg.
Cefaleia, alterações comportamentais, psicose e convulsões. Alterações hematológicas, como anemia, leucopenia e trombocitopenia, também podem estar associadas.
Cymene® frasco-ampola com 500 mg.
Hemograma completo e creatinina no uso prolongado, assim como exames oftalmológicos periódicos.
Classe C.
Potencializa a toxicidade medular de sulfas e quimioterápicos.
Inibidor da neuramidase dos vírus.
Tratamento da Influenza em adultos, eficaz se menos de 2 dias de sintomas.
75 mg 2 vezes/dia por 5 dias.
Insônia, vertigens, náuseas e vômitos. Em menos de 1% dos diabéticos, pode piorar seu controle.
Tamiflu® em cápsulas de 75 mg.
Sem indicação específica de monitoração.
Classe C. Não recomendado uso na amamentação.
Probenecida pode aumentar suas concentrações séricas em 2 vezes, necessitando de ajuste de dose.
Medicação é convertida pelo metabolismo hepático e intestinal em aciclovir, cujo mecanismo de ação já foi comentado.
Semelhantes às do aciclovir.
Herpes genital e herpes simples: 1 g a cada 12 horas por 7 dias.
Herpes zóster: 1 g a cada 8 horas por 7 dias.
Cefaleia, dismenorreia, dor abdominal e náuseas podem ocorrer.
Valtrex® em comprimidos de 500 mg.
Hemograma, creatinina e enzimas hepáticas se uso prolongado.
Classe B, aparentemente seguro também na lactação.
Cimetidina e probenecida podem aumentar seus níveis séricos.
Agente anti-histamínico que compete com histamina pelos receptores H1. Acredita-se que seus efeitos centrais estejam relacionados com inibição central dos efeitos da acetilcolina e seus efeitos sedativos.
Tratamento sintomático das vertigens, antiemético e anti-histamínico.
Dose de 10 a 50 mg EV a cada 6 horas em dose máxima de 300 mg/dia, ou por via oral 50 a 100 mg a cada 6 a 8 horas.
Sonolência, secura da boca, visão turva e confusão mental são relatados.
Dramin® ampolas com 30 mg e comprimidos de 50 e 100 mg.
Sem indicações específicas de monitoração.
Classe B.
Uso combinado com inibidores da monoaminoxidase, álcool e antidepressivos podem aumentar efeitos depressores do sistema nervoso central.
Antagonista seletivo do cálcio, efeito nas síndromes vestibulares não completamente conhecido, apresenta efeito vasodilatador cerebral.
Tratamento sintomático das vertigens.
Dose de 10 mg/dia.
Cansaço, sonolência e raramente manifestações extrapiramidais.
Vertix®, Vertizine®, Flunarin®, Fluvert® e Sibelium® em comprimidos de 10 mg.
Sem indicações específicas de monitoração.
Não determinada.
Pode aumentar efeito depressor do sistema nervoso central de antidepressivos e sedativos.
Ação vasodilatadora cerebral e anti-histamínica.
Tratamento sintomático das vertigens.
Dose de 75 a 100 mg/dia em dose única ou dividida em 2 doses.
Sonolência, aumento de peso, apatia e sintomas dispépticos. São relatados com maior frequência e aparentemente com maior intensidade em comparação com a flunarizina.
Cinarizina®, Antigeron®, Stugeron® em comprimidos de 25 e 75 mg.
Sem indicações específicas de monitoração.
Não determinada.
Semelhantes a flunarizina.
A ação dos glicocorticoides é iniciada pela entrada dos esteroides na célula e ligação com os receptores de glicocorticoides no citossol. Após a ligação, os complexos hormônio-receptor ativados entram no núcleo e interagem com sítios aceptores do DNA, estimulando a ativação de genes-alvo relacionados aos efeitos fisiológicos dos corticoides. Em doses elevadas, glicocorticoides como a cortisona e corticosterona ligam-se a receptores de mineralocorticoides com afinidade semelhante à aldosterona.
O uso de hidrocortisona (cortisol) constitui a reposição de glicocorticoide mais fisiológica em pacientes com IA primária e secundária. A dose tradicional de acetato de hidrocortisona de 30 mg (20 mg cedo e 10 mg à tarde) foi associada a níveis de cortisol sérico baixos às 12 horas e aumento do risco de osteoporose. A dose de reposição de hidrocortisona mais apropriada é 20 mg, fracionada em 3 doses (10 mg cedo, 5 mg às 12 horas e 5 mg às 17 horas). No Brasil, o acetato de cortisona ou hidrocortisona está disponível somente em farmácias de manipulação. Em virtude da disponibilidade e maior facilidade posológica, a prednisona é o composto mais utilizado, na dose de 5 mg pela manhã (Tabela 1). Em procedimentos cirúrgicos e intercorrências clínicas, deve ser realizada a reposição suplementar de glicocorticoide (Tabela 2).
A dose apropriada de glicocorticoides em outras situações clínicas depende desta situação. Em pacientes com meningite bacteriana, sugere-se dexametasona 10 mg a cada 6 horas.
Tabela 1: Equivalência dos glicocorticoides e tempo de ação
Droga |
Dose (mg) |
Ação |
Hidrocortisona |
20 |
Curta |
Cortisona |
25 |
Curta |
Prednisona |
5 |
Intermediária |
Prednisolona |
5 |
Intermediária |
Metilprednisolona |
4 |
Intermediária |
Triancinolona |
4 |
Intermediária |
Dexametasona |
0,75 |
Longa |
Betametasona |
0,6 |
Longa |
Tabela 2: Terapia de suplementação da reposição de glicocorticoide
Intercorrência |
Dosagem |
Doença febril leve, gastroenterite, colonoscopia |
Hidrocortisona 25 mg |
Colecistectomia, hemicolectomia, doença febril importante, pneumonia |
Hidrocortisona 50 a 75 mg |
Cirurgia cardíaca, ressecção hepática ou Whipple, pancreatite, sepse |
Hidrocortisona 50 mg a cada 6 horas |
Reposição com glicocorticoides de longa ação está associada com maior risco de síndrome de Cushing exógena.
Meticorten® (comprimido de 5 mg). Decadron® (comprimido de 0,5 mg).
A resposta clínica é o melhor parâmetro para avaliação da eficácia da terapia de reposição com glicocorticoide. Até o momento, não se conseguiu demonstrar a adequação dos níveis de cortisol urinário para monitoração da dose de acetato de cortisona ou hidrocortisona. Nos pacientes em reposição com prednisona, não existe parâmetro laboratorial para ajuste da dose.
Classe C.
O uso de drogas que acelerem a metabolização hepática dos glicocorticoides (fenitoína, barbitúricos, rifampicina, mitotano) pode indicar a necessidade de aumento da dose de reposição.
A dipirona ou metamizol é um analgésico não opioide muito utilizado no Brasil. Em vários países, como nos EUA e na Inglaterra, seu uso é proscrito devido o risco de discrasias sanguíneas e agranulocitose, embora se tenha verificado que a incidência de agranulocitose é muito baixa (o risco foi de aproximadamente 1,1 caso para 1 milhão de usuários, após uma semana de uso). A restrição de sua comercialização impede que haja vários estudos com a droga, dificultando a análise de sua eficácia.
Derivado pirazolônico. Atribui-se que sua ação analgésica esteja relacionada à inibição da síntese de prostaglandinas e à ação direta no sistema nervoso central.
Ações analgésica e antipirética.
A dose habitual é de 500 a 1.000 mg a cada 6 horas. Alternativa para efeito analgésico mais intenso: 2 g a cada 6 horas.
Pode causar náuseas e vômitos e, ocasionalmente, reações hipotensivas isoladas; em casos raros, queda crítica da pressão arterial. Agranulocitose e reações anafiláticas e anafilactoides também são raros.
Contraindicações: a dipirona é contraindicada em pacientes com hipersensibilidade aos derivados pirazolônicos, gestantes, lactantes, portadores de porfiria aguda intermitente e deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6-PD).
Sem indicações específicas.
Evitar uso concomitante com barbitúricos, clorpromazina e fenilbutazona.
Anador®, Analgex®, Analgin®, Baralgin®, Conmel®, Debela®, Dipirol®, Dipirona, Doran®, Dornal®, Magnopirol®, Nalginin®, Nevalgina®, Novalgina® comprimidos de 500 mg; frasco de solução oral gotas de 500 mg/mL (1 mL = 20 gotas) e solução oral com copo medida graduado para 2,5mL com 50 mg/mL; ampola de solução injetável com 500 mg/mL.
Classificação não disponível, pois a droga é proscrita pelo Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos.