Homem de 87 anos com histórico de insuficiência cardíaca e síncope.
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Ritmo Juncional –> Intoxicação Digitálica
ECG em ritmo juncional (ausência de ondas P), FC-30 bpm, infradesnivelamento de ST-T com concavidade superior (onda T "em colher") diminuição do intervalo QTc. Área eletricamente inativa anterior (amputação de R em parede anterior e lateral).
O paciente apresentava digoxina sérica de 4ng/ml (limite desejável <0,8).
Os digitálicos têm sido utilizados no tratamento da insuficiência cardíaca há mais de 200 anos, constituindo mundialmente uma das drogas mais prescritas, particularmente na idade avançada. No entanto, em idosos, o risco-benefício do uso do digital deve ser cuidadosamente avaliado, já que a intoxicação digitálica é mais prevalente nessa faixa etária. O uso da digoxina no tratamento das taquiarritmias supraventriculares e da IC acompanhada de fibrilação atrial é inquestionável. No entanto, o papel dos digitálicos no tratamento da IC sistólica crônica, acompanhada de ritmo sinusal, permanece controverso, enquanto que na IC diastólica é desaconselhável.
A intoxicação digitálica é mais prevalente nessa faixa etária por uma série de fatores, tais como:
a) diminuição da massa muscular, o que reduz o volume de distribuição da droga. Para uma mesma dose de digoxina, os idosos apresentam níveis séricos cerca de duas vezes maior, quando comparados com pessoas mais jovens;
b) diminuição da função renal (cerca de 70% da digoxina é eliminada por esta via), além de que, na doença renal, a capacidade da albumina em se ligar à digoxina está diminuída;
c) janela terapêutica estreita, o que faz com que doses terapêuticas se aproximem muito das doses tóxicas;
d) risco aumentado de interações medicamentosas. Drogas comumente prescritas no idoso (quinidina, verapamil, amiodarona, espironolactona, triantereno, eritromicina, tetraciclina, propafenona, entre outras) interagem com a digoxina aumentando o seu nível sérico;
e) alterações metabólicas freqüentes em idosos, como hipopotassemia, hipomagnesemia, hipercalcemia, hipóxia, acidose e doenças como o hipotireoidismo e a doença pulmonar obstrutiva crônica predispõem à intoxicação digitálica.
Devemos salientar que a detecção da intoxicação no idoso é dificultada com freqüência por suas manifestações atípicas, particularmente alterações neuropsiquiátricas (depressão, delirium, labilidade do humor, sonolência, psicoses e confusão mental), gastrointestinais (anorexia, náuseas, vômitos, diarréia e dor abdominal) e inespecíficas (fadiga, tonteira e cefaléia). As manifestações neuropsiquiátricas da intoxicação digitálica podem preceder, acompanhar ou seguir às manifestações cardíacas.