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Eletrocardiograma 100 - Morte súbita em atletas

Eletrocardiograma 100

Paciente de 18 anos de idade (jogador de futebol) foi encaminhado para realizar uma avaliação cardiológica. Nega sintomas, e o exame cardíaco foi normal. O eletrocardiograma foi o seguinte:

 

 

O que fazer?

Para analisar o eletrocardiograma, é necessário seguir uma sequência lógica que, invariavelmente, deve ser aplicada na análise de qualquer ECG:

 

1.     Considerar a frequência cardíaca.

2.     Verificar o PR (início da onda P até o QRS).

3.     Analisar a morfologia da onda P, verificando possível sobrecarga atrial.

4.     Verificar sinais de sobrecarga ventricular.

5.     Observar alterações da repolarização ventricular.

6.     Verificar a morfologia do QRS.

 

É importante lembrar que a principal causa de morte súbita em atletas ou em pessoas com menos de 35 anos de idade é cardiomiopatia hipertrófica. Trata-se de uma entidade clínica que provoca hipertrofia acentuada da região septal, em casos raros, do ápice, podendo determinar arritmias ventriculares fatais.

Ao analisar o ECG mostrado, verifica-se que:

 

a)     o eixo elétrico encontra-se no quadrante normal, ou seja, entre 0° e -60°;

b)     a frequência cardíaca está em 60 bpm. Sabe-se que atletas geralmente são vagotônicos, o que determina uma menor frequência cardíaca ao repouso;

c)     o intervalo entre o início da onda P e o início do complexo QRS é de 120 ms. É um indicativo da velocidade de condução entre os átrios e os ventrículos e corresponde ao tempo de condução do impulso elétrico desde o nó atrioventricular até aos ventrículos. A morfologia da onda P está normal. A amplitude é < 2,5 mm e não se verifica nenhum entalhe superior, o que indicaria sobrecarga atrial esquerda.

 

Para critérios de sobrecarga ventricular, são rRecomendados os índices de Sokolow Lyon (ISL)  e o de Cornell (IC), demonstrados a seguir:

 

         ISL = S de V1 + R de V5 = 35 mm

         IC = R de aVL + S de V3 = 28 mm em homens e =20 mm em mulheres.

 

Nesse caso não se verifica sinais de sobrecarga ventricular.

 

Morfologia

Não se verificam características de bloqueios de ramo direito ou esquerdo.

 

Diagnóstico

O paciente apresenta eletrocardiograma normal e baixa probabilidade de evento cardíaco durante atividade física, podendo ser liberado para jogar futebol. A inscrição na entrada de um grande hospital norte-americano define bem o que pensamos e elucida o caso em questão: “esta história de morte súbita não existe, leva anos para acontecer!”. Assim, uma boa consulta cardiológica e um eletrocardiograma bem interpretado podem afastar mais de 90% dos problemas cardíacos.

 

Referências

1.     Pastore CA, Pinho C, Germiniani H, Samesima N, Mano R. Sociedade Brasileira de Cardiologia, Grupo de Estudos de Eletrocardiologia. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos (2009). Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2009;93:1-19.

 

Comentários

Por: Edson A. Martini em 29/09/2012 às 20:33:20

"Sokolow Lyon e Cornell são critério de Sobrecarga que avaliam somente amplitude do QRS. Em jovens não é incomum índices presentes sem que haja sobrecarga principalmente atletas. Assim, os falsos positivos tem uma predição aumentada. O critério de pontos de Romhilt é mais abranjente pois, avalia não só amplitude mas outros elementos como a presença ou não da sobrecarga atrial esquerda, presença de Strain,desvio vetorial do QRS ventricular, avaliaçao da deflexão intrinsecoide além das avaliações das amplitudes de R ou S periféricos. A avaliação conjunta dos critérios citados passa a ter uma maios sensibilidade e especificidade."