Especialidade: Endocrinologia / Nefrologia
Paciente com antecedente de litíase renal de repetição. Na avaliação dessa litíase, realizou análise de cálculo que mostrou cálculo de fosfato de cálcio.
Na imagem torácica, apresentou calcificação pulmonar e litíase com calcificação pulmonar (Figura 1).
Figura 1. Imagem torácica mostrando calcificação pulmonar e litíase com calcificação pulmonar.
O fato de ter litíase renal de repetição com cálculos de fosfato de cálcio sugere o diagnóstico de hiperparatireoidismo primário.
O hiperparatireoidismo primário é a principal causa de hipercalcemia, ocorrendo sobretudo em ambiente ambulatorial. A maioria dos pacientes é assintomática no momento do diagnóstico. Nestes pacientes, a inapropriada secreção de PTH e a hipercalcemia são consequência da redução da sensibilidade das glândulas paratireoides ao cálcio (set point de inibição de secreção do PTH pela concentração de cálcio está mais elevado) , o que aumenta a massa das paratireoides. Ocorre 1 caso a cada 500 a 1.000 pessoas. Dentro das endocrinopatias, só é menos prevalente que o diabetes melito e o hipotireoidismo.
O quadro clínico é representado, em geral, por sintomas inespecíficos como letargia, fraqueza muscular, confusão mental, anorexia, náusea, vômitos, constipação, poliúria e polidipsia. As complicações decorrentes da hipercalcemia são: desidratação, nefrolitíase, nefrocalcinose, insuficiência renal, hipertensão, arritmias cardíacas, úlcera péptica, pancreatite e até coma.
Entre as principais manifestações do hiperparatireoidismo, há:
alterações ósseas (decorrentes da absorção exagerada de osso cortical);
sequelas da hipercalcemia crônica (principalmente sobre os rins);
sintomas constitucionais atribuíveis à hipercalcemia: fraqueza, apatia, depressão, poliúria, polidipsia, constipação e, eventualmente, coma.
Os casos mais graves costumam ser vistos no carcinoma de paratireoide.
A presença de PTH elevado em pacientes com hipercalcemia faz o diagnóstico de hiperparatireoidismo primário. As únicas outras possibilidades diagnósticas são o uso de lítio ou a hipercalcemia hipocalciúrica familiar, que evolui com fração de excreção renal de cálcio menor que 1%. O achado diferenciador, portanto, é a presença de calciúria relativa.
A hipercalcemia hipocalciúrica familiar é causada por mutações no receptor sensor de cálcio. É transmitida por herança autossômica dominante com 100% de penetrância e os indivíduos afetados podem ser detectados em idade jovem.
O tratamento é cirúrgico e as indicações são:
valores de cálcio sérico maiores que 1 mg/dL acima do limite superior da normalidade;
calciúria maior que 400 mg nas 24 horas;
queda de 30% ou mais no clearance de creatinina;
presença de osteoporose em qualquer sítio;
pacientes com menos de 50 anos de idade.