Autor:
Tatiana Pfiffer Favero
Médica Assistente e Pós-graduanda do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Charité-Universitätsmedizin Berlin, Alemanha.
Última revisão: 15/02/2012
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Especialidades: Ginecologia / Obstetrícia
Estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego, placebo-controlado que objetivou avaliar os efeitos da adição da infusão de ocitocina ao bolus de ocitocina no controle da perda sanguínea relacionada ao parto cesariano eletivo.
O parto cesariano é uma das operações mais realizadas em mulheres mundialmente, e sua frequência tem crescido sobremaneira nas últimas décadas. Dentre as principais complicações relacionadas ao procedimento, vale destacar as síndromes hemorrágicas, geralmente asssociadas a distúrbios da contratilidade uterina. Apesar da conhecida importância do uso da ocitocina na redução do sangramento puerperal e no controle da atonia uterina no parto normal, sua utilização na cesariana ainda é motivo de investigação. A maior parte das sociedades europeias de ginecologia e obstetrícia consideram suficiente a administração de apenas 5 UI de ocitocina em bolus intravenoso logo após o nascimento da criança para controle da perda sanguínea. Contudo, a meia-vida da ocitocina é curta (4 a 10 min), não sendo, portanto, suficiente para manter o útero contraído por períodos mais prolongados. Baseados nestes efeitos fisiológicos da droga e no fato de que a maior parte das hemorragias acontecerem no pós-parto imediato, a prática recomendada nos Estados Unidos já acrescenta uma infusão de ocitocina ao bolus intravenoso. Sabendo que a ocitocina é uma substância barata, segura e bem tolerada pelos pacientes, o presente estudo procurou investigar se esta infusão adicional da medicação pode realmente diminuir tanto a ocorrência de hemorragias obstétricas graves, quanto a necessidade de utilização de outras drogas uterotônicas para prevenção da atonia uterina.
Trata-se de um estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego, placebo-controlado e multicêntrico, realizado em 5 maternidades na República da Irlanda entre fevereiro de 2008 e junho de 2010. A investigação incluiu 2.069 parturientes agendadas para cesariana eletiva, sendo excluídas gestantes com placenta prévia, miomatose uterina, trombocitopenia, coagulopatia, antecedente de hemorragia obstétrica grave prévia, uso de anticoagulantes e menores de 18 anos. As pacientes foram divididas em 2 grupos: intervenção e placebo. Mulheres do primeiro grupo receberam 5 UI de ocitocina em bolus durante 1 minuto e mais 40 UI diluídos em 500 mL de solução salina durante 4 horas. Já no grupo placebo, foi administrado o bolus com 5 UI de ocitocina e apenas solução salina sem medicação durante 4 horas. Não foi observada diferença significativa em termos da ocorrência de hemorragia obstétrica grave (perda sanguínea superior a 1.000 mL): 15,7% no primeiro grupo versus 16% no grupo placebo. Entretanto, a necessidade de uso de drogas uterotônicas adicionais foi consideravelmente maior no grupo que recebeu apenas o bolus (placebo) em relação ao que recebeu bolus e infusão (intervenção): 18,4% versus 12,2%.
O estudo demonstrou que a adição da infusão de ocitocina em cesarianas eletivas diminui significativamente a necessidade do uso complementar de outros agentes uterotônicos, apesar de não reduzir a ocorrência de hemorragias obstétricas graves. Vale lembrar que a ocitocina é mais barata, bem tolerada e relativamente segura em relação a outros medicamentos uterotônicos. Os achados do presente estudo suportam a implementação da infusão adicional de ocitocina na prática clínica para reduzir as perdas sanguíneas maternas em cesarianas eletivas.
1. Sheehan SR, Montgomery AA, Carey M, McAuliffe FM, Eogan M, Gleeson R et al. Oxytocin bolus versus oxytocin bolus and infusion for control of blood loss at elective caesarean section: double blind, placebo controlled, randomised trial. BMJ. 2011 Aug 1;343:d4661 [link para o artigo] (Fator de Impacto: 13,471).
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