Autor:
Lucas Santos Zambon
Doutorado pela Disciplina de Emergências Clínicas Faculdade de Medicina da USP; Médico e Especialista em Clínica Médica pelo HC-FMUSP; Diretor Científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP); Membro da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar (ABMH); Assessor da Diretoria Médica do Hospital Samaritano de São Paulo.
Última revisão: 03/08/2017
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Contexto Clínico
Náusea e vômitos no pós-operatório (NVPO) são as complicações mais comuns após uma cirurgia, afetando mais de 30% dos pacientes. Estudos demonstram que a cirurgia laparoscópica e o aumento da duração da cirurgia são preditores independentes de maior risco. A dexametasona é um potente corticosteroide que tem sido avaliado na prevenção de NVPO em cirurgias de baixo e médio risco e demonstrou ter um benefício substancial, sendo um medicamento recomendado para pacientes com risco moderado e alto de NVPO em diretrizes e protocolos para recuperação após a cirurgia gastrintestinal. No entanto, não se sabe se é uma boa opção usá-la em cirurgia do intestino.
O Estudo
Trata-se de um ensaio clínico com dois grupos paralelos randomizados e cegos realizados em 45 hospitais do Reino Unido, e cujo objetivo foi determinar se a dexametasona pré-operatória reduz o vômito pós-operatório em pacientes submetidos à cirurgia eletiva do intestino e se ela está associada a outros benefícios mensuráveis durante a recuperação da cirurgia, incluindo um retorno mais rápido à dieta oral e à redução do tempo de permanência.
Foram incluídos 1.350 pacientes com idade igual ou superior a 18 anos submetidos à cirurgia aberta ou laparoscópica para patologia maligna ou benigna do intestino. A intervenção foi o uso de uma dose única de 8mg de dexametasona intravenosa na indução da anestesia em comparação com o tratamento padrão.
O desfecho primário avaliado foi um relato de vômitos dentro de 24 horas pelo paciente ou médico, e os desfechos secundários foram: vômitos com 72 a 120 horas relatados por paciente ou médico, uso de antieméticos e náuseas e vômitos pós-operatórios em 24, 72 e 120 horas avaliadas pelo paciente; fadiga e qualidade de vida em 120 horas ou alta e aos 30 dias, o tempo para retornar à ingestão de líquidos e alimentos, a duração da internação e eventos adversos.
Vômitos nas 24 horas após a cirurgia ocorreram em 172 (25,5%) participantes do braço de dexametasona e 223 (33,0%) participantes do tratamento padrão (número necessário para tratar [NNT] 13, IC 95%, 5 a 22; P = 0,003). Foram administrados antieméticos pós-operatórios adicionais (sob demanda) para 265 (39,3%) participantes alocados de dexametasona e 351 (51,9%) alocados em cuidados padrão (NNT 8, IC 95%, 5 a 11; P <0,001). A redução na necessidade de antieméticos permaneceu até 72 horas. Não houve aumento das complicações.
Aplicação Prática
Pode-se concluir, com base nesse ensaio clínico, que, em pacientes submetidos à cirurgia intestinal, uma dose única de 8mg de dexametasona intravenosa na indução da anestesia (além do tratamento padrão) não apresentou aumento significativo de eventos adversos e reduziu os episódios de vômitos pós-operatórios clinicamente importantes por 24 horas após cirurgia, ocorrendo também diminuição na necessidade de antieméticos no pós-operatório, por até 72h, sem aumento de eventos adversos. A adoção dessa prática parece ser uma boa opção na rotina dos serviços de anestesia.
Bibliografia
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