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Vômitos após reversão de fibrilação atrial

Autor:

Fernando de Paula Machado

Médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Residência em Clínica Médica no Hospital das Clínicas da FMUSP (HC-FMUSP). Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do HC-FMUSP. Médico Diarista do Pronto-Atendimento do Hospital Sírio-Libânes.

Última revisão: 11/04/2012

Comentários de assinantes: 1

Quadro clínico

Paciente de 84 anos em pós-operatório de cirurgia de revascularização do miocárdio apresentou fibrilação atrial (Figura 1). Iniciada amiodarona e digitálico IV, houve reversão para ritmo sinusal. Após 1 dia, apresentou vômitos e dor epigástrica, realizando-se outro ECG (Figura 2).

 

Figura 1. Fibrilação atrial.

 

Figura 2. ECG realizado no período em que o paciente apresentava vômitos.

 

Descrição do ECG

Ritmo sinusal, bloqueio atrioventricular de 1º grau (PR 184 ms), alteração da repolarização ventricular, QT longo (QTc = 517).

 

Discussão

A fibrilação atrial é comum no pós-operatório de cirurgia cardíaca, ocorrendo em 30 a 50% dos pacientes, e o tratamento ideal é a reversão para ritmo sinusal. Alguns fatores de risco, como idade avançada, hipertensão, diabetes, obesidade, síndrome metabólica, aumento atrial esquerdo, disfunção diastólica, hipertrofia ventricular esquerda e predisposição genética, aumentam a chance de ocorrer esta arritmia.

Em pacientes estáveis e com boa tolerância, tenta-se a reversão com antiarrítmicos e a amiodarona é a droga de escolha (Tabela 1). Neste caso, o paciente recebeu amiodarona e digitálico (deslanosídeo) com reversão para o ritmo sinusal. Além disso, deve-se investigar e corrigir fatores precipitantes nesta fase de pós-operatório, como hipoxemia, distúrbios hidreletrolíticos (principalmente hipocalemia) e distúrbios do equilíbrio ácido-base.

 

Tabela 1. Medicações para reversão de fibrilação atrial no Brasil

Medicação

Via

Dosagem

Efeitos colaterais

Amiodarona

Oral

Internados: 1,2 a 1,8 g/dia em doses divididas até o total de 10 g ou 30 mg/kg em dose única. Manutenção: 200 a 400 mg/dia

Ambulatoriais: 600 a 800 mg/dia em doses divididas até o total de 10 g. Manutenção: 200 a 400 mg/dia

Hipotensão, bradicardia, prolongamento do QT, torsades de pointes, elevação da glicemia, obstipação, flebite

IV

5 a 7 mg/kg em 30 a 60 min, seguidos de 1,2 a 1,8 g/dia e infusão contínua até o total de 10 g. Manutenção: 200 a 400 mg/dia

 

Propaferona

Oral

600 mg IV 1,5 a 2 mg/kg em 10 a 20 min

Hipotensão, flutter atrial com alta resposta ventricular

Quinidina

Oral

0,75 a 1,5 g em doses divididas durante 6 a 12 h, associada a um medicamento para diminuir a frequência cardíaca

Prolongamento do QT, torsades de pointes, hiperglicemia, hipotensão

 

 

Devemos sempre analisar os medicamentos em uso pelo paciente, pois há diversas interações e alguns levam a maior risco de prolongamento de QT (Tabela 2) e posterior arritmia, como torsades de pointes. Este paciente vinha em uso de furosemida (risco de hipocalemia), atorvastatina, azitromicina (interação com amiodarona) e sertralina. Provavelmente ocorreu intoxicação digitálica (maior risco pela idade e por estar com insuficiência renal) e alargamento de QT por amiodarona e interação medicamentosa.

 

Tabela 2. Fármacos que afetam a repolarização, prolongam o intervalo QT e têm casos documentados de torsades de pointes

Tipo de fármaco

Exemplo

Antidisrítmico da classe Ia

Quinidina, disopiramida, procainamida

Antidisrítmico da classe Ic

Flecainida

Antidisrítmico classe III

Sotalol, amiodarona

Antipsicóticos

Droperidol, haloperidol, fenotiazida

Antispicóticis

Tioridazina

Antipsicóticos “atípicos”

Pimozideb, quetiopina, risperidona, zotepina

Inibidores da captação da serotonina

Fluozetina, paroxetina, sertralina

Antibióticos macrolídeo

Eritromicina, claritromicina, azitromicina

Agonistas 5-HT1

Zolmitriptano, naratriptano

Agentes antimaláricos

Halofantrínea

Anti-histamínicos

Terfenadrina

Agentes pró-cinéticos

Cisaprida

 

 

Conteúdos sugeridos no site

1.   ECG – QT longo por drogas

2.   ECG – QT longo congênito

3.   ECG – Intoxicação digitálica

4.   Informações sobre deslanosídeo

5.   Pós-operatório de cirurgia cardíaca

 

Links externos

1.   Drogas que podem prolongar QT

Comentários

Por: miguel gomes em 24/02/2015 às 00:58:12

"ADORO, QUANDO O ASSUNTO É PACIENTE CARDIACO, GOSTARIA MUITO DE FICAR SABENDO MAIS DO ASSUNTO;"

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